Recado aos alagoanos

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domingo, 11 de dezembro de 2016

Memórias e futebol; macarrão, não

Talvez pela proximidade — quando escrevo esta crônica distam apenas 06 dias da estréia do Brasil na Copa —, talvez pelo favoritismo — definitivamente incrustado na nossa Seleção —, talvez pela profusão de craques. O fato é que esses fatores me remetem à de 1982, de tão triste e inesquecível memória. Trauma, acho. Mas que não se repetirá. Não se repetirá! Não se repetirá!!

Havia menos craques; não era inicialmente favorita. Aliás, nunca, antes, seleção tão favorita ao título quanto esta. Ao menos é o que dizem ou escrevem os entendidos. Ou que se acham — hoje, se quiser, você posa, fácil, de experto em Copa do Mundo. Não me recordo se tenha falado e escrito tanto a respeito; nem há lugar ou produto onde não seja lembrada.

Há, portanto, diferenças daquela. Consideráveis, até. Mas acho que esse clima otimista, mesmo assim, me faz lembrá-la... Não! Não se repetirá!!

Era, então, um coração adolescente. Não só por isto, claro, mas já amanheceu avexado, quase taquicárdico, naquele 05 de julho de 1982. Havíamos passado, e muito bem, pela antiga União Soviética, Escócia, Nova Zelândia e, principalmente, metemos três, três dias antes, na arqui-rival e campeã mundial de 1978, Argentina (argh!), fatos já bastantes a desencadear os acelerados batimentos, que assim o eram menos por receio e mais por excitação pela alegria que se avizinhava. Tínhamos ótimo técnico (Telê), que fazia o time jogar pro gol, com raras beleza e alegria, além de Leandro, Oscar, Júnior, Toninho Cerezzo, Falcão, Sócrates e Zico, pra ficar só nesses artistas da bola.

Nessas circunstâncias, como imaginar algo diferente de uma vitória em cima da Azzurra, que se classificara empatando com Peru, Camarões e Polônia? Bem, talvez um coração adulto, mais experiente, por cautela cuidasse de pôr as barbas de molho... Afinal, tratava-se do futebol, uma “caixinha de surpresas” (nem sempre vence o melhor). E ela, a Itália, também acabara de vencer a (argh!) Argentina. Mas o que esperar-se de um jovem coração verde-amarelo, cego de paixão e ainda imberbe?

Não deu outra... Perdemos o jogo (3 x 2), que ficou conhecido como “a tragédia do Sarriá”, referências à inesperada derrota e ao estádio, históricos. E a Copa. Silêncio no meu mundo, só rompido pelo choro seco, interno. Pelo que penei, foi o jogo da minha vida.

Passei um bom tempo sem comer macarrão. Só pra me vingar. Emagreci. Gostei. Não há mal que não traga um bem.

Feliz Copa pra nós!
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Publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 13/06/2006
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com), em nov.2007
Foto em http://jornalggn.com.br/

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