Talvez pela proximidade — quando
escrevo esta crônica distam apenas 06 dias da estréia do Brasil na Copa —,
talvez pelo favoritismo — definitivamente incrustado na nossa Seleção —, talvez
pela profusão de craques. O fato é que esses fatores me remetem à de 1982, de
tão triste e inesquecível memória. Trauma, acho. Mas que não se repetirá. Não
se repetirá! Não se repetirá!!
Havia menos craques; não era inicialmente favorita. Aliás, nunca,
antes, seleção tão favorita ao título quanto esta. Ao menos é o que dizem ou
escrevem os entendidos. Ou que se acham — hoje, se quiser, você posa, fácil, de
experto em Copa do Mundo. Não me recordo se tenha falado e escrito tanto a
respeito; nem há lugar ou produto onde não seja lembrada.
Há, portanto, diferenças daquela. Consideráveis, até. Mas acho que
esse clima otimista, mesmo assim, me faz lembrá-la... Não! Não se repetirá!!
Era, então, um coração adolescente. Não só por isto, claro, mas já
amanheceu avexado, quase taquicárdico, naquele 05 de julho de 1982. Havíamos
passado, e muito bem, pela antiga União Soviética, Escócia, Nova Zelândia e,
principalmente, metemos três, três dias antes, na arqui-rival e campeã mundial
de 1978, Argentina (argh!), fatos já bastantes a desencadear os acelerados
batimentos, que assim o eram menos por receio e mais por excitação pela alegria
que se avizinhava. Tínhamos ótimo técnico (Telê), que fazia o time jogar pro
gol, com raras beleza e alegria, além de Leandro, Oscar, Júnior, Toninho
Cerezzo, Falcão, Sócrates e Zico, pra ficar só nesses artistas da bola.
Nessas circunstâncias, como imaginar algo diferente de uma vitória
em cima da Azzurra, que se classificara empatando com Peru, Camarões e Polônia?
Bem, talvez um coração adulto, mais experiente, por cautela cuidasse de pôr as
barbas de molho... Afinal, tratava-se do futebol, uma “caixinha de surpresas”
(nem sempre vence o melhor). E ela, a Itália, também acabara de vencer a
(argh!) Argentina. Mas o que esperar-se de um jovem coração verde-amarelo, cego
de paixão e ainda imberbe?
Não deu outra... Perdemos o jogo (3 x 2), que ficou conhecido como
“a tragédia do Sarriá”, referências à inesperada derrota e ao estádio,
históricos. E a Copa. Silêncio no meu mundo, só rompido pelo choro seco,
interno. Pelo que penei, foi o jogo da minha vida.
Passei um bom tempo sem comer macarrão. Só pra me vingar.
Emagreci. Gostei. Não há mal que não traga um bem.
Feliz Copa pra nós!
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Publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 13/06/2006
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com), em nov.2007
Foto em http://jornalggn.com.br/
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