Talvez não faça jus à sua grandeza o realce que pretendo aqui extrair da passagem por este mundo do ilustre jornalista e genial cronista Armando Nogueira. É que o destaque (e consequente reflexão) é à sua condição explícita de torcedor, exaltada e decantada, sendo, como era, jornalista e cronista.
Armando Nogueira trabalhava no Rio de Janeiro e era declaradamente torcedor “doente” do Botafogo, que é do Rio de Janeiro (como todos sabem). E não sofria, por isto, contestação séria à sua imparcialidade enquanto jornalista ou cronista. Seus leitores, de lá e espalhados país afora, sabiam — porque ele fazia questão de deixar claro — de seu amor, de sua predileção pelo time da “estrela solitária”. E ao assim agir Armando Nogueira demonstrava o respeito que tinha por quem viesse a lê-lo (e recebia, até por isto, do mesmo modo, esse respeito). Suas crônicas, suas matérias jornalísticas, fossem sobre qual time de futebol fossem, podiam portanto ser avaliadas sem segredos, sem subterfúgios, de cara limpa. Ali estava um profissional que buscava ser imparcial (não necessariamente desapaixonado) em suas crônicas e matérias jornalísticas, mas que não negava as paixões que nutria enquanto homem comum. Para o leitor, por sua vez — a quem por dever ético à profissão que abraçou, e a si mesmo, deve igualmente respeito e consideração —, era reconfortante saber “onde estava pisando”. Afinal, como saber se alguém está sendo imparcial se suas preferências pessoais sobre o tema comentado lhe são omitidas ou escamoteadas?
Em grande parte da imprensa de outros estados (da daqui, também), entretanto, ocorre o contrário do que com sua prática ensinava o grande mestre, com raras exceções. Talvez por temer-se o julgamento do público (torcedor), talvez por entender-se que a imparcialidade na profissão não convive com a parcialidade fora dela, ou por outra razão qualquer, omite-se a paixão pelo time por que se torce. Receia-se o crivo da parcialidade, quando se daria exatamente o contrário. Tampouco é o caso de resguardo à privacidade do profissional.
Jornalista ou cronista esportivo que torce por algum clube de futebol da região onde trabalha — a grande maioria, em Alagoas, por exemplo, certamente torce, em segredo(!), por CRB, ou CSA, ou ASA — deveria ter a boa prática, para com seu público (formado de torcedores como ele), de declinar sua predileção, porque somente assim estaria(á) conferindo a esse mesmo público a oportunidade de avaliar, quanto à perseguida imparcialidade — conferido-lhes todos os instrumentos a tanto —, a informação ou opinião que lhe é formulada.
Assim penso, enquanto cronista (quem escreve crônicas, modestas que sejam, como são as minhas). Assim sinto, enquanto torcedor — público leitor, ouvinte e telespectador —, que antes de cronista, também sou.
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Foto: globoesporte.com (alterada/redimensionada)
Armando Nogueira trabalhava no Rio de Janeiro e era declaradamente torcedor “doente” do Botafogo, que é do Rio de Janeiro (como todos sabem). E não sofria, por isto, contestação séria à sua imparcialidade enquanto jornalista ou cronista. Seus leitores, de lá e espalhados país afora, sabiam — porque ele fazia questão de deixar claro — de seu amor, de sua predileção pelo time da “estrela solitária”. E ao assim agir Armando Nogueira demonstrava o respeito que tinha por quem viesse a lê-lo (e recebia, até por isto, do mesmo modo, esse respeito). Suas crônicas, suas matérias jornalísticas, fossem sobre qual time de futebol fossem, podiam portanto ser avaliadas sem segredos, sem subterfúgios, de cara limpa. Ali estava um profissional que buscava ser imparcial (não necessariamente desapaixonado) em suas crônicas e matérias jornalísticas, mas que não negava as paixões que nutria enquanto homem comum. Para o leitor, por sua vez — a quem por dever ético à profissão que abraçou, e a si mesmo, deve igualmente respeito e consideração —, era reconfortante saber “onde estava pisando”. Afinal, como saber se alguém está sendo imparcial se suas preferências pessoais sobre o tema comentado lhe são omitidas ou escamoteadas?
Em grande parte da imprensa de outros estados (da daqui, também), entretanto, ocorre o contrário do que com sua prática ensinava o grande mestre, com raras exceções. Talvez por temer-se o julgamento do público (torcedor), talvez por entender-se que a imparcialidade na profissão não convive com a parcialidade fora dela, ou por outra razão qualquer, omite-se a paixão pelo time por que se torce. Receia-se o crivo da parcialidade, quando se daria exatamente o contrário. Tampouco é o caso de resguardo à privacidade do profissional.
Jornalista ou cronista esportivo que torce por algum clube de futebol da região onde trabalha — a grande maioria, em Alagoas, por exemplo, certamente torce, em segredo(!), por CRB, ou CSA, ou ASA — deveria ter a boa prática, para com seu público (formado de torcedores como ele), de declinar sua predileção, porque somente assim estaria(á) conferindo a esse mesmo público a oportunidade de avaliar, quanto à perseguida imparcialidade — conferido-lhes todos os instrumentos a tanto —, a informação ou opinião que lhe é formulada.
Assim penso, enquanto cronista (quem escreve crônicas, modestas que sejam, como são as minhas). Assim sinto, enquanto torcedor — público leitor, ouvinte e telespectador —, que antes de cronista, também sou.
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Foto: globoesporte.com (alterada/redimensionada)