Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Jornalista e torcedor: por que não?

Talvez não faça jus à sua grandeza o realce que pretendo aqui extrair da passagem por este mundo do ilustre jornalista e genial cronista Armando Nogueira. É que o destaque (e consequente reflexão) é à sua condição explícita de torcedor, exaltada e decantada, sendo, como era, jornalista e cronista.

Armando Nogueira trabalhava no Rio de Janeiro e era declaradamente torcedor “doente” do Botafogo, que é do Rio de Janeiro (como todos sabem). E não sofria, por isto, contestação séria à sua imparcialidade enquanto jornalista ou cronista. Seus leitores, de lá e espalhados país afora, sabiam — porque ele fazia questão de deixar claro — de seu amor, de sua predileção pelo time da “estrela solitária”. E ao assim agir Armando Nogueira demonstrava o respeito que tinha por quem viesse a lê-lo (e recebia, até por isto, do mesmo modo, esse respeito). Suas crônicas, suas matérias jornalísticas, fossem sobre qual time de futebol fossem, podiam portanto ser avaliadas sem segredos, sem subterfúgios, de cara limpa. Ali estava um profissional que buscava ser imparcial (não necessariamente desapaixonado) em suas crônicas e matérias jornalísticas, mas que não negava as paixões que nutria enquanto homem comum. Para o leitor, por sua vez — a quem por dever ético à profissão que abraçou, e a si mesmo, deve igualmente respeito e consideração —, era reconfortante saber “onde estava pisando”. Afinal, como saber se alguém está sendo imparcial se suas preferências pessoais sobre o tema comentado lhe são omitidas ou escamoteadas?

Em grande parte da imprensa de outros estados (da daqui, também), entretanto, ocorre o contrário do que com sua prática ensinava o grande mestre, com raras exceções. Talvez por temer-se o julgamento do público (torcedor), talvez por entender-se que a imparcialidade na profissão não convive com a parcialidade fora dela, ou por outra razão qualquer, omite-se a paixão pelo time por que se torce. Receia-se o crivo da parcialidade, quando se daria exatamente o contrário. Tampouco é o caso de resguardo à privacidade do profissional.

Jornalista ou cronista esportivo que torce por algum clube de futebol da região onde trabalha — a grande maioria, em Alagoas, por exemplo, certamente torce, em segredo(!), por CRB, ou CSA, ou ASA — deveria ter a boa prática, para com seu público (formado de torcedores como ele), de declinar sua predileção, porque somente assim estaria(á) conferindo a esse mesmo público a oportunidade de avaliar, quanto à perseguida imparcialidade — conferido-lhes todos os instrumentos a tanto —, a informação ou opinião que lhe é formulada.

Assim penso, enquanto cronista (quem escreve crônicas, modestas que sejam, como são as minhas). Assim sinto, enquanto torcedor — público leitor, ouvinte e telespectador —, que antes de cronista, também sou.
_________________
Foto: globoesporte.com (alterada/redimensionada)
Tb postada no sítio Futebolalagoano.com e FutNet

segunda-feira, 15 de março de 2010

(Sur)Realismo grotesco

Foi um jogo horrível de se ver. Parece evidente que o CRB não necessita de dois volantes, quando já dispõe de três zagueiros. O que se ressente disto? O meio-de-campo; precisa ser experto pra concluir isto não. É quase que sempre partindo da zaga diretamente para o ataque. E haja chuveirinho na área. E haja troca difícil de passes próximo à área. E passes na sua maioria errados. Nervosismo, decorrente da pressão pela vitória? Pode ser. Jogadores novos em sua maioria. Mas não credito só a isto, não.

Na verdade, o CRB não consegue jogar contra uma marcação individual de seus principais jogadores de criação e ataque, dificuldade que aumenta em campos pequenos, como o é o da Pajuçara e os do interior do estado. Não bastasse, Edmar e Rodrigo Batata, por franzinos que são, sofrem sucessivas faltas, pouco marcadas e não punidas com o rigor com que deveria sê-lo. Essa dificuldade se manifesta com ainda mais visibilidade quando o adversário joga com forte retranca, como no caso do Santa Rita e de quase todos os clubes que jogam contra o Galo.

Mas o que mais me surpreendeu e explica o título da crônica foi a atitude dos jogadores do time adversário e as declarações de seu treinador aos microfones da Rádio Gazeta AM, logo após o jogo. Não de todos os jogadores, é bem verdade. Mas dos expulsos, para ficar só neles. Na verdade denominá-los atletas de futebol já é, por si só, enorme deferência, porque não foi como tais que se comportaram em campo. Os caras são completamente, completamente indisciplinados (mais uma vez, por estrita educação, direi desses indivíduos apenas isto). Indisciplinados.

Esses senhores — que talvez até sejam pais de família (se o forem, valha-me!) —, chutaram escancarada e violentamente, e por trás, a “canela” de colega de profissão, com estardalhaço explícito; fizeram ostensivos e repetidos gestos obscenos para a torcida do time adversário (seus filhos menores, se os tiver, ou suas esposas, se casado o forem, certamente não estavam entre aqueles a quem os referidos profissionais da bola dirigiram seus simpáticos dedos “maior-de-todos”*, não é?); agrediram-na ao chutar a bola em sua direção com o notório intuito de machucar algum torcedor (tivesse a “bolada” pego em uma criança, hein, irascível jogador?), tentaram dar um soco no rosto do árbitro, intimidaram-no fisicamente de modo absolutamente ofensivo, e foram justamente expulsos. Três expulsões, sem a mais mínima sombra de dúvidas justíssimas.

Pois não é que seu treinador teve o (glup**) desplante(!) de dizer que as três expulsões teriam sido injustas? Pasme, leitor! As três: injustas. Portanto, o que aconteceu, segundo compreende, não foram motivos suficientes a que o árbitro expulsasse os três (glup) jogadores(!). É..., talvez isto explique o comportamento de seus (glup) atletas(!).

Hein? O quê? O dono do time é o presidente da FAF? Que é Conselheiro do CRB? Que já exerceu a presidência do clube alvirrubro? Sério? Putz! Mas nesse ao menos um alento há: as devidas reprimendas serão induvidosamente impostas aos responsáveis pelo espetáculo grotesco de que fomos expectadores na Pajuçara. Alguém duvida?

* Maior-de-todos: dedo mindinho, senhor-vizinho, MAIOR-DE-TODOS, fura-bolos, cata-piolho, lembram (só não sei se tem hífen, mas se não tiver, desculpa aí!)
**Glup: engasgo; pigarro; dificuldade física inexplicável de pronunciar as palavras que imediatamente lhe seguem.
_____________