Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

sábado, 30 de agosto de 2008

Egoísta e acomodado

Crônica
Sou. Cada vez mais. E isto se torna mais evidente em dois momentos, que se interligam. Primeiro, viajando pelo interior alagoano, quando me deparo com a miséria de vários de seus municípios. De dar dó! Alguns não têm “um pau pra dar num gato” (o pau que metaforicamente bateria no bichano seria um comércio decente, uma grande feira, alguma indústria, enfim, dinheiro circulando). Nada (ou quase). Mas sobra miséria: doenças (muitas erradicadas em outros locais), analfabetismo, esgoto a céu aberto, barbeiro (o bicho, não quem barbeia os outros), bocas desdentadas, piolho, falta d’água... Sim, sobra(!) falta d’água. Falta tanto que sua falta já é a regra. Assim, sobra.

Outra momento é em época de eleição para prefeito. Os candidatos são uns abnegados, uns desprendidos, uns exemplos incontestes de amor ao próximo necessitado. Verdadeiras Madres Teresas de Calcutá (com o perdão da santa, pela comparação e citação, aqui), não fosse uma diferença: pegam em armas, se preciso for. A maneira como guerreiam — entre eles, inclusive e principalmente —, sem receio de criar desafeições no opositor e, não raro, arriscando a própria vida; o volume de recursos financeiros que investem na campanha — sacrificando dos seus entes mais próximos e queridos (mesmo com a certeza de que jamais conseguirão recuperar as vultosas importâncias despendidas apenas pelo recebimento de sua remuneração mensal, contrapartida do exercício do cargo) —, se de um lado fazem-me marejar os olhos de lágrimas, emocionado pela ainda existência de homens tão probos, generosos e devotados à causa dos miseráveis, de outro como que apunhalam-me o peito, face à dor que sinto, decorrente da constatação de meus egoísmo e acomodação.

Mas a recompensa divina não tarda! (com o perdão do Senhor, pelo socorro ao além, de que mais uma vez me valho). Com efeito, após eleitos, rápida e folgadamente vê-se adquirirem belas e confortáveis casas (algumas, verdadeiras mansões), enormes propriedades rurais, belos carrões importados (e por aí afora), certamente por terem ganho em alguma das loterias da CAIXA, ou por uma herança inesperada, ou coisa (legal, claro!) que o valha.

Vejo tudo isto e sinto-me incomodado pela depreciativa avaliação de mim mesmo. Mas nem assim livro-me de meu egoísmo, de minha confortável acomodação. Prefiro seguir com o incômodo. Tão diferente desses pretendentes a homens públicos. Tão diferente desses, depois eleitos, prefeitos.
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Também publicado no jornal impresso Gazeta de Alagoas, de 10/9/2008 (na internet, em http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/texto_completo.php?cod=134236&ass=37&data=2008-09-10)

Nada está perdido

Crônica
Três desfalques importantíssimos num time ainda, pasmem, em formação (Glaydson, Ivo e Leandrinho); uma postura inadmissivelmente medrosa no 2° tempo (após uma mexida infeliz do técnico, que nem por isto deve ser trocado por outro); e um cansaço injustificável de alguns jogadores (explicável, certamente; justificável, jamais) foram para mim as principais razões para o desastre promovido pelo CRB, contra si mesmo, ontem à noite (CRB 1 x 2 Vila Nova).

Não é fácil (e como não é!) levantar a cabeça após uma derrota de virada, vivendo o calvário que vem vivendo — pelas mais diversas razões — o CRB. Muito menos para a sua torcida. Mas não se pode esquecer que os erros ocorridos têm solução, que ainda há tempo para lhes dar solução, e que o time, mesmo com os desfalques, fez um bom 1° tempo (portanto, começa a ter uma equipe, não apenas 11 jogadores), o que também reforça a percepção de que vem evoluindo. Por último, lembremos que tudo isto, de bom e de ruim, ocorreu num jogo contra um dos mais sérios concorrentes ao acesso à Série A, então ocupante da 3ª posição no campeonato, com 39 pontos. Certamente deve ter algum valor, ou não? Mas o Galo foi pra cima, fez gol, e jogou com bravura e competência, ainda que lamentavelmente apenas no 1° tempo.

Por isto mesmo, não é hora de derrotismo, pessimismo, (de se falar em) planejamento para a Série C, de desesperança, e por aí vai. O time precisa de mais 10 vitórias? Precisa (pelo menos, em tese). Perdeu quantos jogos no 2° turno? De 3, perdeu 2. Para quem? Corinthians Paulista (1° colocado) e Vila Nova (então, 3°). Talvez seus dois mais difíceis adversários. Ganhou de quem? Do São Caetano (situado no meio da tabela de classificação) e na casa dele. Quantas partidas restam? 16. Poderia, assim, ainda dar-se ao luxo de perder 6 partidas, correto? Certamente. Vem melhorando? Nitidamente, sim. Ora, difícil é, quem haveria de negar? Mas daí a jogar a toalha, agora? Agora é que é a hora de apoiar e acreditar! Quem morre de véspera é peru. Não Galo.
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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Sem medo de ser feliz

Crônica
Analise-se os fatos com realismo. Dificuldade não é sinônimo de impossibilidade. No máximo, de modesta probabilidade de ser vencida. Mas esta é sempre relativa e, outrossim, mutável. Enquanto algo for possível, existe, necessariamente, alguma probabilidade de obtê-lo. E se a tarefa do CRB é matematicamente difícil — e o é, o que a torna, em tese, com poucas probabilidades de ser realizada —, é também, inobstante, concretamente possível. Ainda. Veja-se:

O CRB acaba de vencer, pela primeira vez fora de casa, o respeitado São Caetano (4 x 2), que hoje se encontra no meio da tabela, com o dobro dos seus pontos. Venceu e convenceu. Foi, talvez, sua melhor partida, considerando-se seu próprio desempenho técnico, postura, equilíbrio emocional, além das próprias qualidades do time adversário.

De outra parte, o CRB vem em lenta, mas nítida, evolução, a meu ver a partir do jogo contra o Bahia, ainda no 1º turno. Parece, finalmente, estar encontrando sua melhor formação. Restam-lhe, ainda, 17 partidas a serem disputadas (51 pontos), nas quais teria, em tese, de obter mais 10 vitórias (ou 30 pontos) — desconsiderando-se os eventuais empates — para ver-se livre do rebaixamento, já que o time, hoje, tem 15 pontos.

Ora, formos pensar que o CRB sofreu 13 derrotas no 1º turno, e entendermos que a tendência, pelo que vem apresentando, é de manter esse pífio desempenho, motivos haverá para pessimismo. Mas 10 vitórias em 17 jogos, para um time que vem evoluindo — ou 11 vitórias em 18, tendo uma delas já sido alcançada, exatamente contra o São Caetano —, está longe de traduzir-se tarefa impossível. Daí porque, e outrossim, aquela última vitória altera muita coisa para o CRB, a despeito de não lhe ter tirado a lanterna da mão. Afinal, se é para considerar significativa apenas a mudança que o deixará livre do rebaixamento, então nada será suficiente, já que não existe atalho para lá chegar. É uma por vez.

De outra parte, formos dar uma olhadela em 2006, veremos que o Galo obteve 4 vitórias e sofreu 12 derrotas no 2º turno da Série B daquele ano. Estava em franca involução, já que fizera um muito bom 1º turno. Ora, 12 derrotas representam uma derrota a menos do que as que sofreu no 1º turno desta temporada; 4 vitórias, representa uma a mais. Portanto, se involuindo sofreu 12 derrotas, e mesmo assim se manteve na Série B/2006, em evolução (na Série B/2008) suas 13 derrotas no 1º turno deste ano não significam, necessariamente, rebaixamento. Ao contrário, se o time vir melhorando (ou consolidando) o seu desempenho nos jogos seguintes, como vem fazendo nos últimos até aqui, não será nenhum absurdo a obtenção das (10) vitórias que lhe faltam.

Resta um turno quase inteiro. E nele, recentemente iniciado, perdeu (honrosamente) apenas para o time que destoa, positivamente, dos demais. O segundo, venceu (e convenceu). Fora de casa. Pela primeira vez. Assim, postos os pés firmemente no chão, tenho que a descrença tão precoce, sendo-se torcedor, traduz medo de ser feliz; e, não o sendo, defender-se que o rebaixamento está sacramentado é vender desilusão. Os números que, sob determinado ângulo, estão para alguns a condená-lo precocemente ao rebaixamento são os mesmos que poderão vir a salvá-lo. Depende só do CRB. E ele vem mostrando que quer. É preciso continuar acreditando, pois.
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Reciprocidade e educação

Crônica
Há algum tempo atrás, o atual presidente do Brasil determinou que os turistas norte-americanos deveriam se submeter a regras semelhantes, aqui, em nossos aeroportos, àquelas que os turistas brasileiros estavam sendo submetidos nos aeroportos dos Estados Unidos. Não ordenou que fossem mal-tratados, embora muitos de nossos conterrâneos assim o estivessem sendo naquele país; não impediu, arbitrariamente, o ingresso de qualquer turista estrangeiro no Brasil; não pretendeu submetê-los a incômodo maior do que aquele sofrido pelos nossos irmãos brasileiros. A isto se chama direito de reciprocidade de tratamento, previsto no ordenamento jurídico internacional.

Li ou ouvi muitas vozes e penas (teclados) de respeito criticando a posição dos que se insurgiam contra a abertura de mais uma parte do Trapichão. Igualmente, li ou ouvi palavras (igualmente respeitáveis) contrárias aos que defendiam fosse dedicado, à torcida e à direção do Corinthians Paulista, um tratamento semelhante àquele percebido pelos torcedores e dirigentes alagoanos, mais especificamente do Clube de Regatas Brasil.

Em apertada síntese, assim entendiam, no primeiro caso, porque nós teríamos a obrigação, como anfitriões, de acomodar em nosso estádio os torcedores da agremiação rival do time alagoano; no segundo, porque não seria porque fomos mal-tratados que iríamos assim tratar os que vinham à nossa casa. Em suma, somos educados, recebemos bem os que nos visitam, somos pacíficos, e por aí foram os argumentos sinceramente esgrimidos por seus defensores.

Preciso, porém, discordar. Relativamente ao primeiro ponto, não enxergo essa necessidade de esticar-se o até então interditado (pela metade) Trapichão para receber os torcedores do time adversário. Principalmente quando se sabe que jamais tal atitude fora adotada antes para beneficiar os times do próprio estado. Por que o seria, agora? Para obter-se uma maior renda? Se foi por isto, cuida-se de exemplo lamentável de aplicação da máxima de que os fins justificam os meios. Nem sempre justificam. Aqui, certamente, não.

Ao revés, a idéia que paira sobre nossas cabeças é outra: de submissão, de desprestígio aos torcedores alagoanos ou, pior, de irresponsabilidade por submeter-se o visitante ao risco de um desmoronamento (afinal, não estava interditado porque oferecia risco aos torcedores alagoanos?). Ora, ora, ora... Existe lei a disciplinar essa situação! Ponha-se à venda o número mínimo de ingressos permitidos pela legislação e reserve-se um local adequado e devidamente protegido aos visitantes. E só.

Quanto à segunda objeção, relativa ao tratamento no que tange às demais circunstâncias (reserva de ingressos, acomodação 5 estrelas para a diretoria roxa, etc.), penso que não se trata de ser mal-educado, muito menos de defender-se o uso de violência. A questão aí, mais uma vez, é de reciprocidade. Misturada com um pouco de brio e de auto-estima, o que também não faz mal. Veja-se: se a torcida do CRB sequer pôde adquirir seus ingressos com antecedência (parece que, aqui, houve também a colaboração de nossos dirigentes, que não os teria solicitado), se nem abrir a bandeira do próprio estado de Alagoas lhe foi permitido (o que dizer uma mísera faixa), se até um coronel da polícia militar nativa foi injustificadamente destratado naquelas terras, por que vamos nós facilitar-lhes desmesuradamente a venda de bilhetes para o jogo, permitir-lhes encher nosso estádio de faixas e o que mais lhes conviesse?

A verdade é que infelizmente fomos (mal-)educados a confundir educação com subserviência, respeito com lenimento, hospitalidade com bajulação, reciprocidade com pagamento na mesma moeda. Violência? Absolutamente, não. Não podemos (nem devemos) ser selvagens. Mal tratamento? De forma alguma. Tratamento digno. Mas só.

E reciprocidade, naturalmente, não quer dizer reagir-se como o animal que nos agride, até porque não se tem patas, mas pés. Reciprocidade implica é reação à altura, não necessariamente idêntica. Entretanto, agredido o seja pelo bicho, nem por isto se deve enviar os agressores a um pet-shop ou ao nosso melhor haras, para alimentá-lo e embelezá-lo. Para bicho raivoso existe “carrocinha”, cocheira, jaula, entre outros lugares adequados, conforme for a espécie do dito cujo. Assim como faríamos se fosse na nossa casa. Merecemos (e temos de exigir) respeito em qualquer circunstância. Venha de onde vier o desrespeito. Até no esporte. Ao agirmos com reciprocidade estamos exigindo respeito. Isto é educação.
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Escrito em 25/08/2008
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domingo, 24 de agosto de 2008

Velhos problemas. Velhos alertas.

Crônica
Finalização. O CRB continua pouco finalizando, ou finalizando mal. Não fosse o esquecido Touzin, que entrou no lugar do lateral (ou ala, como queiram), nem o único gol teria saído. Apesar de algumas caretas que se faz ao jogador, não custa lembrar que em seis jogos pelo CSA, na Série C/2008, o mesmo Touzin fez, salvo engano, 5 gols. E é bom recordar, também, que o time fez uma campanha terrível; mesmo assim, lá estava o Touzin (rima involuntária) fazendo seus gols. É evidente que o Galo continua precisando melhorar esse fundamento. Hugo Henrique até agora não emplacou. Luciano Fonseca, idem. Olhem, então, para o Touzin. Antes do fim (agora foi voluntária).

Emocional. Em tese, o mais difícil adversário seria enfrentado ontem. Não vou nem explicar o porquê, de tão gritantes que são as razões para assim ser por muitos considerado. Chamaram a bendita doutora (Helena) para trabalhar com o plantel durante a semana que antecedeu o jogo? Chamaram, nada. Quando foram fazê-lo já foi em cima da hora, impossibilitando a sua importante — melhor, imprescindível(!) — atuação. É impressionante! As Olimpíadas/2008 estavam aí (até há poucos minutos antes de escrever esta crônica), mostrando a importância, para um atleta, de apresentar um bom equilíbrio emocional, espírito de vencedor. Deu pra enxergar, com clareza, quem o tinha e quem o não. Como é, então, que o lanterna da competição, das sofridas Alagoas, vai jogar com o líder, do todo-poderoso São Paulo, e não se atenta pra isto?

Pra terminar: a missão do CRB é difícil, mas está longe de ser impossível. Longe! Continuo achando que o time está evoluindo. Merece reforços? Merece. Mas reforços, não jogadores para compor elenco (não vou nem dizer as posições, porque amplamente conhecidas). Merece acompanhamento psicológico? E como! Então, por favor, dêem-no ao time. Será possível que ainda não perceberam o quão importante que é?! Ah! E não ousem, não ousem(!) jogar a toalha! Além dos erros cometidos pelo CSA na preparação para a Série C (troca de técnico, dispensa de jogadores que atuaram no alagoano, etc.) — que o levaram à desastrosa e lamentável campanha já referida —, creio que a pá de cal que acabou de enterrá-lo foi a infeliz declaração de seu então presidente (bom presidente, entretanto), de que não acreditava mais na classificação. Matematicamente, porém, ainda era possível. Havia chance, havia vida. Dirigentes não têm o direito de desistir. Aprendam com esses equívocos.
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O retrato do nosso Estado

Crônica
Não é o único retrato infeliz. Mas é um retrato e tanto.

O Trapichão esteve interditado — aberto ao público apenas a metade, aproximadamente — durante praticamente todo o Campeonato Alagoano/2008, e todo o 1º turno do Campeonato Brasileiro da Série B. Agora, porque vem pra cá o Corinthians Paulista é liberado mais um tanto de sua estrutura, aumentando-lhe a capacidade de público. Isto, mesmo. Agora, como num passe de mágica, não oferece mais perigo... E por quê? Algum serviço foi feito para evitar os riscos de um possível desastre? Sim, porque deveriam ser iminentes, já que interditado estava. Serviço algum. É apenas por causa do time do sudeste do país.

Havia razão para a interdição, que, aliás, só fez aumentar o prejuízo que já sofrem os times de Alagoas, notadamente os da Capital? Ou alguém tem dúvida de que o tamanho do estádio é um dos fatores para que o público compareça em maior ou menor número? Será que o maior público havido no Trapichão durante o Alagoano — creio que o da sua decisão, entre CSA x ASA, no início de maio —, não seria maior se o estádio estivesse liberado? E não me refiro aos que porventura não tenham conseguido ingresso, mas aos que simplesmente não vão pelo natural desconforto e riscos de acidentes existentes num estádio de capacidade de público reduzida.

Mas que importa isto para os responsáveis pela interdição? Que importa isto para os responsáveis por serviço algum ter sido sequer iniciado? Que importa isto para aqueles que poderiam ter liberado o estádio antes, como o fizeram — embora ainda parcialmente —, agora? A questão aqui trazida, pois, não é porque a liberação teve em vista atender a torcida adversária — seja ela composta por paulistas, ou mesmo alagoanos (estes, também os há), até porque isto é outra história —, mas porque não se teve essa atenção com os clubes da própria terra.

Infelizmente, este é um dos retratos do nosso Estado, dos que o dirigem e dos que fazem o seu futebol. E vamos nós (sobre)vivendo assim, mesmo. Uma viva aos outros! E viva o que é dos outros!
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Escrito sexta-feira (22/08/2008)
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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

CRB x Corinthians: dá pra acreditar?

Crônica
10/05/2008 – Corinthians 3 x 2 CRB
CRB: Jéferson; Mateus, Márcio (Lairson) e Plínio; Serginho, Fabiano Silva, Marcos, Helder (Juliano) e Marcinho (Jamba); Ricardo Boiadeiro e Júnior Amorim. Técnico: Roberval Davino. Vi o clube das Alagoas agigantar-se frente ao poderoso clube paulista. Poderia ter empatado o jogo, até ter ganho, apesar de suas limitações, já que a base era a mesma do recém-concluído certame regional. E como pôde disputar o Campeonato Brasileiro da Série B com esse plantel? Isto é outra história. De qualquer sorte, foi. Mas não fez feio, repita-se.

12/08/2008 – CRB 3 x 0 Paraná
CRB: Fernando; Alex Santos, Plínio, Johnny e Anderson Paim; Glaydson (Reginaldo Nascimento), Carlinhos (Ivo), Leandrinho e Gaibu; Junior Amorim e Hugo Henrique (Assis). Técnico: Jean Carlos (interino). Comparativamente àquele plantel, acima, mantidos no time dito titular apenas Plínio e Júnior Amorim. E há mais três reforços chegando: o lateral esquerdo Jorge Luis, o atacante Rodrigo Silva e o meia-atacante Juninho Cearense. Sem a menor sombra de dúvidas, e com todo respeito aos respectivos atletas, este último plantel é, no geral, (muito) superior ao primeiro. No papel e em campo.

Pois bem, naquele jogo, contra o Paraná, o Galo fez sua melhor partida. Poderia até ter vencido por um placar mais elástico. E não se diga que ganhou porque o time sulista está mal no certame, afinal o Bahia é um time sofrível e ganhou do CRB. Outros exemplos haveria a discriminar. Coisas do futebol.

Por outro lado, desde as últimas partidas, contra o Bahia — quando perdeu pelo placar de 2 x 1 (muito injustamente, ressalte-se) —, passando por aquela disputada contra o Paraná, até a última, contra o ABC, lá em Natal — quando jogou desfalcado dos atuais três principais jogadores do meio-campo e foi escancaradamente garfado por aquele sujeito travestido de árbitro —, o CRB tem demonstrado estar em evolução.

Mais: joga em casa — parece que será em casa mesmo desta vez, já que a torcida adversária, composta por paulistas ou alagoanos-mistos (fazer o quê?), ou alguns rivais, ficará restrita a uma parte menor das arquibancadas, segundo as resenhas esportivas diárias —, empurrado pela sua enorme e barulhenta torcida, sem o mais mínimo favoritismo (que é todo do clube do sudeste do país), necessitando vencer, para permanecer com chances de manter-se na 2ª divisão do brasileiro, estimulado por jogar contra o famoso líder do campeonato e com um histórico de superar as naturais dificuldades que enfrenta.

Crer numa vitória do Regatas é, assim, acreditar em algo absolutamente razoável, factível. Não há ilusão alguma nisto. Isto é o futebol. Ao contrário, não acreditar, ou ao menos não considerar concreta essa possibilidade, é que pode revelar pessimismo exagerado, baixa auto-estima (somos inferiores congênitos), derrotismo.

Aliás, futebol não se vence só com os pés. E cabeça boa não é só aquela que faz gol. O CRB, hoje, apesar de ser um time em formação (fazer o quê?, é!), e da péssima posição que ostenta na classificação, tem um bom plantel e vem se tornando um bom time. Se estiver bem de cabeça, e bem postado tática e tecnicamente tem todas as chances de surpreender. Surpreender os que já dão como certa a vitória do time de São Paulo. Avante, Galo! Avante, Alagoas!
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sobre cascudos corretivos

Crônica
Sabe qual é a salvação dos “cabras de peia”? A civilidade. Porque é graças a ela que muito sujeito sem-vergonha escapa de levar uns “croques”. Não estou querendo, aqui, defender o uso do desforço físico em represália a arbitrariedades praticadas por árbitros de futebol (com trocadilho), sejam elas decorrência de incompetência ou de intenções escusas, mesmo. Até porque a culpa maior dessa sucessão de erros gritantes — vou chamá-los assim, por civilidade (olha ela aí de novo) — que se vê nos gramados de futebol é, de um lado, das velhas e carcomidas regras do futebol, que não permitem sejam corrigidos ou revisados, durante ou após a disputa (para o resguardo do espetáculo e proteção dos próprios árbitros), e, de outro, da inoperância dos órgãos que têm a incumbência de reprimi-los. E naturalmente que a minha irresignação não se dirige àqueles lances do jogo de difícil marcação, que, outrossim, não retratam incompetência, muito menos dá ensanchas a que se os imagine resultantes de vontade deliberada de prejudicar um dos times, movida sabe-se lá por qual estímulo.

Mas o que aquele indivíduo fantasiado de árbitro de futebol fez com o CRB em Natal/RN foi vergonhoso. Aliás, não só o CRB é vítima contumaz desses caras travestidos de árbitro: o CSA também o foi (pra não ir muito longe, durante o Campeonato Brasileiro da Série C/2008), e que eu saiba nada aconteceu contra eles. “Mas, ah!” — podem dizer alguns —, “se o clube tivesse sido mais competente nas finalizações, se fizesse a sua parte, esses erros seriam absorvidos pelo resultado favorável experimentado por aquele que foi vítima do erro.” É verdade. Mas a eventual incompetência, ou mesmo falta de sorte de um time, não pode servir de perdão à incompetência ou mesmo de excludente da ilicitude de um árbitro. Tivesse o CRB sofrido um gol legítimo do ABC, teria perdido porque não foi competente, teve falta de sorte, o que for. Mas perder em decorrência da ingerência determinante de um ato incompetente ou de má-fé de um árbitro não é admissível. E nesse sentido acho que estamos meio acostumados, na nossa civilidade, a tolerar que tais fatos ocorram sem maiores conseqüências.

No meio dessas reflexões fico sabendo que um ou outro dirigente e um ou outro membro da imprensa do estado extravasaram suas emoções um pouco além do que para alguns recomendaria a nossa perseguida e idolatrada civilidade. Também soube que sofreram críticas por isto. Não, qual o quê!, nada muito grave, leitor. Só um xingamentozinho aqui, outro ali, esbravejados no calor da emoção por quem viu seu clube do coração sendo injustificadamente prejudicado (aviso que estou moderando as palavras em homenagem à nossa civilidade, sempre ela!). Ora, não podemos esquecer que somos humanos, que temos sangue correndo nas veias, que futebol é paixão, que mexe, outrossim, com nossas emoções e sentimentos muitas vezes recônditos e adormecidos. É necessário domá-los? É. Mas também é necessário a quem deles tripudia acautelar-se? É, também. A civilidade é, muitas vezes, uma via de mão-dupla, principalmente quando a sua falta desperta naturais arroubos de defesa, na vítima. E nem um cascudo, um mísero “croque” o tal cabra de preto levou.

Penso mesmo que talvez fosse interessante é que estivesse apitando aquela peleja no Iraque. Não, o de hoje, não. O do finado Sadam. A reprimenda que sofreria certamente não ultrapassaria os limites da peculiar civilidade. De lá. Não sei porque, mas nessa hipótese acho que ele não iria marcar aquele pênalti...
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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Rei, o Plebeu e a Sábia

Crônica
Chegou cheio de fama. Conquistada com justiça, diga-se. O Rei do Nordeste! Era assim chamado em decorrência do grande número de títulos conquistados por times que dirigiu em gramados nordestinos. Veio para tirar o único representante daquele estado das Alagoas, naquela competição nacional, da delicada situação em que se encontrava na tabela. Por ironia do destino o time vinha de uma vitória contra um clube do planalto central. Naquele jogo feliz e quase singular (antes houve apenas uma outra vitória, na distante 4ª rodada), válido pela 11ª rodada do certame, fora dirigido por um técnico interino — ex-jogador do mesmo clube, até então exercendo a função de auxiliar técnico — e assistido por uma profissional da psicologia, antiga (e vitoriosa) conhecida do clube, mas cujos serviços até então paradoxalmente lhe foram solicitados em apenas duas oportunidades, no distante ano de 2006.

O resultado experimentado após a vinda do rei foi desastroso. Desde que iniciado o reinado, a nave vermelha e branca — de nome argos, em referência àquele famosa e lendária nave grega — empatou uma única vez — e em seus domínios — e sofreu 5 derrotas, 3 delas por goleada. O Rei do Nordeste, então, surpreso e derrotado pelo próprio insucesso experimentado, reinvestiu-se de suas vestes majestáticas, pegou do seu cetro e de sua coroa, ...e se foi. Sobraram os argonautas da esperança, novamente sem comandante (ou, no caso, um rei). Sobrou a sábia dos estudos psicológicos, cujos serviços haviam novamente sido solicitados na imediatamente anterior batalha contra o time da Terra de Todos os Santos (e em que o clube da Terra dos Marechais, apesar de derrotado por 2 tentos a 1, demonstrara parecer estar recuperando a coragem, a garra e a fé).

Três dias depois haveria uma nova batalha — ontem, precisamente —, então já pela 18ª rodada da guerra. O tempo era curto e a necessidade de vitória era enorme, inadiável, até. À falta de um general com mais medalhas e galões — não necessitava fosse um outro rei —, o clube teve mesmo foi que socorrer-se de um simples plebeu — escolhido entre os próprios membros da plebe —, investindo-o no cargo de técnico. Mais: no dia mesmo da nova batalha, pedira que a sábia fosse prestar a assistência psicológica possível aos sofridos argonautas. Esta mais uma vez aceitou o desafio (que raríssimos aceitariam, registre-se).

Veio a batalha, e os argonautas da esperança não decepcionaram, fazendo jus ao belíssimo Hino do clube que defendem. Apesar do pouco tempo de preparação técnica e tática patrocinada pelo plebeu — alçado, às carreiras, como visto, ao posto de comandante técnico —; a despeito de o plantel de guerreiros vir sendo formado em plena guerra; e mesmo tendo sido mais uma vez brevíssima a assistência psicológica promovida pela sábia, aquela nave vermelha e branca foi brilhante! Lutou com raras competência e bravura, do início ao fim! E venceu! E de goleada! Venceu e convenceu.

Festejaram todos: os bravos argonautas da esperança, o novo técnico-plebeu e a competente sábia! Festejou a imensa, vibrante e fidelíssima plebe sofrida, destinatária maior do bem ou do mal que aconteça à nave argos.

Atenção! A nave não pode naufragar. Mantenham o técnico-plebeu! Mantenham a sábia!
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terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mirar certo

Crônica
Pode ser que o CRB caia à 3ª Divisão do Campeonato Brasileiro. Formos mirar nos resultados obtidos até aqui — na parte em que são conseqüência da incompetência mesma do respectivo plantel de jogadores —, a probabilidade é enorme, muito maior do que a que o mantém na Série B. Também o será se formos mirar nas arengas de parcela considerável dos cartolas. É um novo problema a cada dia, decorrente de vaidade ou falta de habilidade mesmo. E o CRB que agonize.

Também o será, se formos mirar na arbitragem — que salvo rara exceções, se não é a responsável direta e exclusiva pelo mau desempenho do time(e não é), é prenhe em ajudar a empurrá-lo ladeira abaixo (e como empurra!) —, inclusive recebendo, muitas vezes, o julgamento complacente de parcela da imprensa (para alguns, arbitragem só é ruim se o juiz anular um gol feito, e que possa mudar o resultado do jogo. E olhe lá: se for o único erro, é capaz de ser perdoada em suas avaliações).

Também o será se formos mirar na falta de planejamento competente (quando há algum), que quase leva o Regatas ao rebaixamento do Alagoano (vide o resultado no 1º turno) e que propiciou que o clube iniciasse e mantivesse (por longo tempo) na Série B/2008 um time fraco até para o fraco campeonato alagoano.

Também o será se formos mirar nesse governo (estadual), que sabe alugar aos clubes alagoanos a utilização do Trapichão, mas que o fecha durante quase todo o Alagoano, e apenas o mantém aberto pela metade durante o Brasileiro, insensível em sua incompetência, sem “dar um tapa numa broa” para consertar as alardeadas mazelas do estádio.

Também o será se formos mirar na parcela — ínfima, felizmente — de torcedores que só criticam o clube — como alguns (maus) pais fazem com os filhos —, quando deveriam, numa hora singular e indigesta dessa, apoiar, apoiar e apoiar. Treino de tiro ao alvo — em que a bala são ovos e o alvo principal, paradoxalmente (já que continua se esforçando e sendo útil em campo, apesar da má-fase, que, diga-se, é geral), era o outrora mais aplaudido e reverenciado dos jogadores (esclareço ao leitor desavisado que meu candidato é outro) — ou vaias na hora imprópria (no decorrer do jogo), não ajudam. Pode crer.

Mas... se formos mirar no verdadeiro espetáculo dado pela torcida durante o jogo passado (em que o CRB perdeu, injustamente!, do Bahia); na perseverança e fé por ela demonstradas em cada jogo do Galo — pouco importando que esteja com a lanterna em punho —; no aplauso inteligente, encorajador e demorado dado aos jogadores após o término do 1º tempo daquele jogo; na garra do time durante os últimos 3 jogos, principalmente o último, quando mesmo sofrendo dois gols não se deixou abater; no esforço que vem sendo realizado por alguns cartolas, do clube ou até de fora dele, para melhorar o plantel de jogadores; na parcela da imprensa (felizmente a imensa maioria) que incentiva, acalma e até omite fofocas (ou “furos” negativos para o clube), as quais, muitas vezes mais tarde se mostram até verdadeiras; no fato de que a maioria dos jogadores gostariam, sim, de ver o CRB no meio ou em cima da tabela, porque, afinal, é o nome deles, a profissão deles que está em jogo; no que pode elevar o clube e não enterrá-lo de vez, cientes de que o campeonato não acabou e ninguém jogou a toalha, é possível, sem dúvida, acreditar. Ainda.

P.S.: Soube que a Dra. Helena — que até então atuara apenas na véspera e no dia do longínquo jogo contra o Brasiliense — fora chamada novamente (quinta-feira, próxima passada). Acho que dela sempre esperam milagre. Seu “milagre”, entretanto, em apertada síntese, é fazer com que os jogadores lutem e acreditem até o último momento. Em duas palavras: coragem e fé. Isto ela fez. Mantenham a doutora, pois.
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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Por que o CRB venceu o Brasiliense? (ou por que é tão difícil ajudar?)

Crônica
Refiro-me ao jogo ocorrido no Trapichão, em 11 de julho do corrente ano, quando o Galo venceu o clube de Brasília pelo placar de 2 x 1. Dos até hoje 16 jogos disputados (escrevo em 7 de agosto) pelo Campeonato Brasileiro da Série B, aquela foi uma de apenas duas vitórias conseguidas pelo clube até agora.

Antes daquela partida, o CRB vinha de 1 empate e 5 derrotas. Depois daquele jogo, disputou 5 partidas: empatou uma e sofreu 4 derrotas. Além daquela disputa, somente veio a sentir o gosto da vitória bem antes, na 4ª rodada, contra o Criciúma — diga-se de passagem, por milagre, dada a quantidade de gols perdidos pelo time de Santa Catarina (o goleiro do Regatas estava numa noite de feliz inspiração).

Resulta, daí, que a vitória contra o Brasiliense foi, portanto, um resultado favorável isolado, em meio a tantos revezes. Exagero, não: em 16 jogos, colheu apenas 3 empates e 2 vitórias. Portanto, foram, até agora, nada menos do que 11 derrotas. Onze!

Mais: o técnico que comandou o time foi o então auxiliar do treinador anterior e que há poucos dias era jogador do clube, deixando de sê-lo exatamente para integrar a comissão técnica, como Auxiliar Técnico. Jamais dirigira uma equipe, antes.

Pois bem, no meio de tantas circunstâncias tidas como desfavoráveis, por que, então, o CRB venceu o Brasiliense? Jogou bem? Sim, jogou bem melhor do que vinha jogando. Jogou com altivez? Sim, certamente. Jogou com garra e determinação? Não me resta a menor dúvida que sim. Soube garantir o placar? Sim, tanto que o resultado foi a vitória. Teve sorte? Claro. Mas qual o time vencedor que não tem sorte? O que houve, então, para esse desempenho tão favorável, essa melhora tão perceptível, além de coroada com o resultado em seu favor?

Francamente, amigo(a) leitor(a), não sei explicar, categoricamente, a razão para essa mudança. O que sei é que na véspera e no dia mesmo daquela partida, exatamente na quinta e na sexta-feira, tive o prazer de levar uma psicóloga ao hotel onde estavam concentrados os jogadores. Era a Dra. Helena (a mesma que esteve com o grupo de 2006, naquelas últimas duas partidas da Série B daquele ano).

Num primeiro momento, antes do jogo contra a Ponte Preta, tentei, junto ao Gustavo Feijó (que a conhecia daquela temporada de 2006), levá-la ao Galo, mas embora aquele houvesse se mostrado bastante receptivo, sua participação teria sido rejeitada por outrem. Quando, logo após a nova derrota, o técnico abandonou o clube, tentei novamente e afinal conseguimos.

Assim é que na quinta-feira, véspera do jogo contra o Brasiliense, fez um rápido e eficiente trabalho com o plantel, e na sexta lá estava desde antes da hora em que o ônibus partiu em direção ao Trapichão (indo inclusive com os jogadores, no ônibus), até o final do intervalo da partida. Fui testemunha da palestra e da dinâmica desenvolvida por aquela profissional (na quinta-feira), e do clima descontraído e alegre que reinou entre os jogadores. Fui testemunha da coragem e da fé que ela conseguiu despertar neles. Foi breve o que vi, mas foi muito bonito. O CRB, como sabemos, venceu. De lá pra cá não mais retornou ao clube, à falta de convite. Registro que sua atividade se deu sem custos para o Galo.

Não seria ingênuo de estar a querer concluir que a vitória se deu pela participação da Dra. Helena. Não é esse o ponto, naturalmente. Até porque psicólogo não faz gol. Mas ela estava lá. E não mais está, desde então. Embora sendo comprovadamente importante o trabalho psicológico competente, embora demonstrado o tenha sido, ela não está. Vai entender porque não está... Vai entender...! Isto é o que quero dizer.
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