Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CRB: lute e vença!


Uns dizem que foi “barca”*, outros, um “dia infeliz”, outros ainda (muitos), inclusive profissionais do mundo do futebol, mostravam-se satisfeitos — apesar do desastroso resultado e, principalmente, do vergonhoso desempenho do time no 1º tempo de jogo —, afinal o objetivo era (só) voltar à Série B. Muito já se fez, então, concluo eu — sintetizando, do que diziam, a interpretação que facilmente realizava na volta pra casa —, de modo que o CRB não vencer o jogo, e mesmo perder a final seria algo quase irrelevante, de tão distantes das forças dos alagoanos a vitória e o título. O vice-campeonato, para esses, já estaria de bom tamanho.

Mas devo reconhecer que por um lado estão com razão os profissionais. Afinal, nunca vencemos uma competição nacional. Nunca. Donde voltar à Série B e ser vice-campeão já seria uma ótima façanha. Para esses e para a imensa maioria dos alagoanos. Vejam o retrospecto.

O périplo iniciou-se com a chamada Taça de Prata, que mal comparando seria equivalente à Série B do Campeonato Brasileiro no formato atual. Mal comparando porque além das diferenças no acesso e rebaixamento, o número de clubes disputantes era pelo menos o dobro do que é hoje. Assim, enquanto nas Séries A e B, no atual modelo, disputam 20 times, cada, nas Taças de Ouro e Prata de 1980 eram 40 e 64 os times participantes, respectivamente, e 40, em cada, nas de 1982 e 1983. Em resumo, enquanto hoje as Séries A e B totalizam 40 clubes, as Taças de Ouro e Prata, juntas, totalizavam 104 (1980) e 80 (1982/83). Se formos acrescer às Séries A e B os 20 clubes que disputaram a Série C neste ano de 2011, serão de apenas 60 o número total de clubes; ainda assim, observe-se, um número muito menor do que o total de clubes que disputavam as Taças de Ouro e Prata na década de 1980.

Explicado, sucintamente, o porquê de considerar a Taça de Prata apenas formalmente equivalente à Série B atual, volto ao cerne do texto. E assim fazendo, anoto que a referência restritiva à Taça de Prata de 1980/82/83 se dá porque foi exatamente nesses anos que Alagoas, então representada pelo CSA, disputou a final. Porém, o Azulão perdeu as três disputas. Três vezes disputou a final; três vezes não venceu.

Em 2009, foi a vez do ASA, disputando a Série C, chegar à final daquele certame nacional. Lamentavelmente, tal qual o CSA naqueles longínquos anos 1980, perdeu, sagrando-se vice-campeão.

Lá, em 1980, 1982, 1983 e 2009, como aqui, em 2011, o alagoano, em regra, acha tudo normal. Para nós, desgraçadamente o só fato de nossos times chegarem à final já está muito bom, obrigado.

Entenda-se, porém, que não estou a menosprezar os feitos alcançados por CSA, ASA e, hoje, CRB. Três vezes na final de uma Taça de Prata e uma vez, cada (ASA/2009 e CRB/2011), na da Série C do Brasileiro, tampouco. Muito pelo contrário. Valorizo demais da conta que tenhamos chegado às finais daquelas e desta competições. E, naturalmente, vibrei “até umas horas” com o feito do Galo: depois de uma campanha quase impecável, conquistou o tão sonhado acesso à Série B, e com duas rodadas de antecipação. Mais: valorizo sobremaneira a permanência na Série B, conquistada pelo ASA, neste ano. Como valorizei e comemorei uma barbaridade a permanência do CRB na Série B nos anos de 2005 e 2006.

A minha irresignação é com nossa leniência, com nossa falta de ambição, de auto-estima, de confiança em nós mesmos, de garra, de fé. A minha chateação é com nosso indisfarçável complexo de vira-latas, no dizer de Nélson Rodrigues. Nós, alagoanos, pensamos pequeno e, lamentavelmente, no futebol também agimos com pequenez. Contentamo-nos com pouco, não com o possível. Ao comemorarmos uma “simples” (as aspas são porque de simples não tem nada) permanência na Série B, estamos comemorando o então possível, e aí temos que comemorar, mesmo. Mas quando chegamos quase ao topo, dependendo apenas de nós mesmos alcançá-lo, e abdicamos de conquistar esse sonho, estamos nos contentando com pouco, não com o possível.

Por isto não posso aceitar como insignificante a derrota do CRB para o Joinville no último sábado, 03/12. Houvesse o Galo se mantido altivo, guerreiro, brioso, nada estaria a replicar. Mas é forçoso reconhecer que foi preguiçoso, medroso, acomodado, descompromissado (ao menos no 1º tempo de jogo).

Entretanto, quero crer que os homens que hoje dirigem o CRB saberão fazer por onde seus jogadores mudem a postura no próximo fim de semana, agora na casa do adversário, e ajudem a Santa Catarina — que em duas oportunidades, naquelas paragens catarinenses, já demonstrou ser regatiana — a ajudá-los. Esperança não me falta. É preciso lembrá-los que é nos momentos mais extremos que a pátria regatiana tem fé, para vencer o futuro, alegres, firmes, de pé. Exatamente como há 99 anos entoamos o belíssimo hino do clube.

O Galo pode, sim, mesmo com todas as dificuldades que terá de enfrentar, sagrar-se campeão. Mas é preciso desejar ser campeão. Compreender que é, afinal, plenamente possível. Ter fé. Desejar, mesmo. De corpo e alma.
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*farra

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

De volta à Série B. Agora, o título.


Nove participações na Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, 23 na B — das quais 15 ininterruptas (1994/2008) —, quando caiu para a Série C, e onde está desde então (2009), mas só até este ano. Sim, porque quando escrevo o CRB acaba de conquistar, com duas rodadas de antecipação, o direito a disputar a Série B, em 2012. Nada mais razoável. Vê, só.

Além da presença nas Séries A (anos 1970/80) e B, o Galo de Campina ocupa a 36ª posição do ranking da Confederação Brasileira de Futebol, sendo detentor de 25 títulos estaduais e único time alagoano que jamais disputou a 2ª Divisão do Campeonato do Estado. Lamentavelmente — e lamentação será só esta —, durante os 15 anos ininterruptos disputando a Série B o Galo não soube aproveitar-se com inteligência e competência desse feito, inclusive negligenciando, na grande maioria das vezes, a competição regional.


Mas se engana quem pensa que o CRB é só futebol. Embora as atenções da torcida e da mídia estejam mais voltadas a esse esporte, o Galo é reconhecido como uma grande força também no voleibol — no estado, sua atuação não conhece adversários à altura —, basquetebol, handebol e futebol de salão (o atual futsal). Seu time feminino de vôlei de 1969, inclusive, sagrou-se campeão sul-americano no Chile (Santiago).

Voltando ao futebol e ao momento presente, faltando ainda um jogo em casa (no Trapichão), o Regatas — como também é carinhosamente conhecido, daí a denominação regatiano ao seu torcedor — ostenta o 29º lugar no ranking das maiores médias de público (2011) considerados os 100 clubes que participam dos campeonatos das Séries A, B, C e D, o que vem a demonstrar a força do seu maior patrimônio: sua vibrante e apaixonada torcida, conhecida na mídia tupiniquim como a Nação Fascinante do Galo. Fascina, mesmo.

Pois bem, se vencer uma das duas partidas que restam, contra o América/RN, aqui, ou contra o Luverdense/MT, lá, terá garantido o direito de disputar a final contra o Joinville, a primeira partida no Rei Pelé e a segunda em Santa Catarina, conforme sorteio realizado pela CBF. Mas, a propósito, é bom que os catarinenses não se fiem muito nessa aparente vantagem (para muitos é vantagem ter a segunda partida em casa). Por duas vezes, em 2005 e 2006, o CRB precisou da ajuda da Santa em jogos lá disputados, quando corria riscos concretos de cair à Série C, e esta o ajudou. Conclusão, segundo os dogmas canônicos: Santa Catarina é CRB! Assim, torcedores contrários, acautelem-se: O Galo quer(vai) ser campeão brasileiro!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Meu pai, o Galo e eu

(Postagem antecipada de quinta para hoje)

Meu pai é sócio-proprietário do Galo, título de n.º 59 (puxando pela memória). Começou a me levar pros jogos do CRB lá pela década de 1970. Saí várias vezes de mascote, não cabendo em mim de contentamento. Tanto que outro dia descobri que estou na foto do “Esquadrão” de 1974, no sítio oficial do clube na internet ― o terceiro, da esquerda para a direita (vide logo abaixo). Pense na emoção!

Último jogo no Rei Pelé, contra o Campinense, há umas duas semanas, encontrei o Silva “Cão” (na foto ao lado, é, agachado, o primeiro da direita para a esquerda). Por coincidência, no caminho ao estádio ia recordando de dois inesquecíveis momentos vividos naquela época: o primeiro, batendo picadinho com o mesmo Silva, no vestiário do Galo, em pleno Trapichão, momentos antes de um jogo. Fiquei todo ancho, todo metido.
Assim também quando nossos pais nos deixavam na concentração e de lá partíamos com os jogadores num ambiente de total confraternização, carinho e emoção, o peito cheio de orgulho. Uma vez sentei-me ao lado do centroavante Bié ― sempre me perguntava como ele conseguia cabecear com eficiência, com aquela cabeleira. Os colegas morreram de inveja. Era muito legal essa proximidade com nossos ídolos. Sou capaz de ouvir ressoando em minhas lembranças as brincadeiras, o clima, o suspense, as comemorações pelos gols.

Por vários anos funcionou a churrascaria do Trapichão. Ia sempre com meu pai e, já mais “velho”, com meus amigos regatianos, e também azulinos. Uma delícia encontrar todos por lá, antes e no intervalo dos jogos. A gozação, sadia, imperava. Depois dos jogos, ia com meu pai comer o galeto do restaurante Galo de Campina, no início da Paju. Nunca comi galeto igual, nem no meu amigo Caruaru, pra mim o segundo melhor.

Foi assim que nasceu meu amor pelo CRB, um sentimento que só faz fortalecer-se com o passar dos anos. Sim, houve uma época em que o traía, influenciado que fui pela mídia televisiva carioca e alguns amigos. Torcia também por um time de lá. Hoje não consigo entender como conseguia torcer por um clube de outros torcedores, de outro estado, se qualquer outro é rival, mais próximo ou não, do meu. Mas colonização é assim mesmo: as mais eficientes se dão sem dor.


Hoje tenho que agradecer a meus pais, que são felizmente regatianos, e a meu pai, que me levava aos jogos do CRB. E dar os parabéns(!) a meu pai e ao único clube do meu coração, o Clube de Regatas Brasil, por seus 80 e 99 anos, respectivamente. É que ambos fazem aniversário hoje, vinte de setembro. Assim, saúde abundante, alegrias a rodo e muitos, muitos anos de vida para ambos.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Covarde

*P/publicação também no jornal Gazeta de Alagoas e na revista O Drible

http://paz-ummundomelhor.blogspot.com
“Jogo não é lugar pra mulher.” “Vai pra casa, mulher.” “Olha o que eu tenho aqui pra você”, e pegava nas partes, que, fosse por minha vontade, seriam extirpadas pra’quele animal nunca mais ter onde pegar.  Gol do CSA, aos 46 minutos do segundo tempo. O quadrúpede quase caía por cima dela, que estava com sua família ― duas filhas adolescentes, e um filho com a namorada, mais afastado, já contando uns 18 anos, de quem a mãe, com receio de algo pior, mantinha ignorante do que estava acontecendo ―, e agitava a camisa (acertando o rosto de uma das garotas), momento em que ela decidiu ir embora, sem chamar a atenção do filho (para quem ela estava indo porque o jogo estava praticamente encerrado).

Aconteceu no último CRB x CSA, quando este, com a vitória alcançada nos minutos finais, logrou manter-se na 1ª divisão do alagoano. Era pra ser só uma festa para os azulinos (que comemorariam a permanência na elite) e tristeza para os regatianos (que pretendiam mandar novamente o rival à segundona, sem sucesso). Era pra ser só coisas do futebol. Mas lá, nas cadeiras do “Rei Pelé”, havia um imbecil, um criminoso, um sujeito que indiscutivelmente nutria um ódio doentio pelas mulheres, e que, dando azo à sua canalhice e covardia resolveu divertir-se desrespeitando uma jovem senhora e mãe, apenas porque desacompanhada de um homem adulto.

Não foi nas arquibancadas altas, nem nas baixas. Tampouco no meio das torcidas Comando Alvirrubro ou Mancha Azul, maiores torcidas de CRB e CSA, respectivamente, e principal alvo dos responsáveis pela segurança no estádio. Ocorreu nas cadeiras. Nas cadeiras!

A jovem mãe é nossa amiga, e regatiana de ir a todos os jogos. Ela explicou-nos, dias depois, o porquê de ter ido assistir ao CRB 1 x 0 Fortaleza nas arquibancadas, próximo à Comando (aliás, adorou e assegurou-me que doravante somente iria pra lá), e não nas cadeiras, como havíamos combinado e fomos. Confesso que meu estômago embrulhou com a história.

A propósito, alô PM, alô meus caros amigos do MP, drs. Max e Denise! As cadeiras devem ser divididas: um lado para os regatianos, outro para os azulinos. E a torcida visitante não pode ficar tão próxima às cadeiras (menos ainda em cima de parte das do 1º piso). A probabilidade de conflito existe e é potencial. Já tive problemas com um torcedor rival que queria porque queria sentar-se na cadeira em que meu filho se encontrava até minutos antes de ir ao banheiro. Deu-me trabalho “convencê-lo” a sair.

Ei, covarde que odeia mulher! Um dia você terá menos sorte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Junho terrível

Neste mês, três fatos negativos ao futebol alagoano (pra variar um pouco) chamaram-me à atenção.

O primeiro, por ordem estabelecida aleatoriamente pela minha memória, foi (é, ainda quando escrevo) a insistência da direção do CSA em participar da segundona alagoana, apoiada em convite que teria sido realizado pela Federação do nosso já tão gozado estado. Valha-me, Deus! Será que a torcida azulina, já tão imerecidamente sofrida pelos três anos recentes em que experimentou a vexatória e humilhante sensação de ver seu quase centenário time disputar a 2º divisão do alagoano, merece mais essa?

Não tive a oportunidade, nem a disposição (confesso), de debruçar-me sobre os aspectos jurídicos que regulam a hipótese perseguida — há amparo jurídico à inusitada iniciativa? —, mas os argumentos divulgados pela imprensa falada (divulgados, não necessariamente defendidos) não resistem a mais superficial análise que se faça, além do vexame a que mais uma vez será submetido o azulão do mutange (e seus torcedores) acaso vingue a infeliz ideia.

Ora, para movimentar os jogadores não se faz minimamente necessário que se os ponha para disputar campeonato da 2ª. Divisão, com todo o respeito aos clubes que lá atuam. Tampouco se pode esperar, por mais ingenuidade(­?) que se possa ter, que a torcida azulina vá prestigiar um jogo sequer. Muito menos se pode comparar a situação do CSA com a de Palmeiras, ABC ou América/RN — que, dizem, participariam em seus respectivos estados, com a versão B de cada um (Palmeiras-B, etc.). Que eu saiba, nenhum dos três jamais passou pelo trauma de disputar o campeonato paulista ou potiguar da 2ª. divisão, diferentemente do CSA, que inclusive acabou de se safar, pelo “pau do canto”, de ir, dessa feita com todo o amparo jurídico, disputar mais uma vez a segundona. Francamente, uma tremenda falta de respeito com sua torcida e, principalmente, com o maltratado clube.

O segundo foi a discussão ao vivo, em alto e audível som, entre o presidente do mesmo CSA e um radialista da capital. E lá se vai o CSA, coitado, protagonizar mais um vexame (pra dizer o mínimo). Enquanto este (o radialista, não este humilde escriba, que Deus me livre!) considerou que aquele, na presidência, é um “zero à esquerda” — aliás, abstraindo a deselegância indiscutível e, por isto mesmo, lamentável da expressão, não passou de uma opinião sobre a, digamos, (in)competência daquele; aquele, por sua vez, indignado(!), fez-se (exatamente: fez-se) ser ouvido nos mesmos rádio e programa, agora in persone, para, entre outros arroubos, ditos na nossa região como “de macho”(!), atribuir ao radialista a pecha de jabeiro e safado (jabeiro seria quem recebe propina pra beneficiar algo ou alguém, tá ligado?). Aliás, redundância dispensável porque jabeiro já é, por isto mesmo, safado. Pena, entretanto, que não amparou sua fala com o mais mínimo indício da abjeta prática que alardeou, aos berros.

O terceiro é o fraquíssimo desempenho do ASA no campeonato brasileiro da série B, até aqui. Tem apanhado mais do que mulher de malandro, chegando a lembrar-me do meu CRB, nos idos de 2008 (triste memória, por sinal). Quando escrevo ocupa a vice-lanterna, com apenas 4 pontos ganhos em 18 disputados.

Por falar no Galo, a nota triste do mês junino na até agora surpreendentemente tranqüila Pajuçara não foi obra deste, mas de quem deveria evitá-la, ao menos dentro de campo, que é onde lhe compete. Refiro-me à tão ridícula quanto desproporcional e, por isto mesmo, descabida expulsão do treinador do CRB no jogo-treino que disputou no Rei Pelé contra a seleção de Passo de Camaragibe. Sim. Eu disse jogo-treino! Pois o técnico viu-se impedido de desfrutá-lo. Foi expulso pelo insensato árbitro, ainda no 1º tempo (do jogo-treino, não é demais repetir). Êêê, Alagoas!...
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#Encaminhado para publicação na revista ¨O Drible¨

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Guilherme Scalzilli: Time pobre não tem vez

Guilherme Scalzilli: Time pobre não tem vez: "Publicado na revista Caros Amigos , em janeiro de 2010. A fórmula de pontos corridos representa a definitiva elitização do futebol naciona..."

terça-feira, 24 de maio de 2011

Colonização por osmose

Outro não poderia ser o tema de estreia da coluna na revista alagoana "O Drible" — a que fui gentilmente convidado a assinar pelo amigo e talentoso radialista e jornalista Antonio Guimarães.

Refiro-me à cultural prática, aqui, de torcer-se por time de outro estado (embora sejam, exatamente por isto, rivais do seu). Na verdade, o privilégio é dividido, mais proximamente, com paraibanos, sergipanos e potiguares. Mas isto pouco diz em nosso favor. Antes, para mim, nos iguala, a todos, em algo que me soa ruim, muito ruim para o nosso futebol e nossa autoestima.

O fenômeno é antigo e teria começado à época das transmissões do campeonato carioca pela extinta Rádio Nacional, seguido pelas transmissões da carioca TV Globo e, posteriormente, também pela paulista Bandeirantes. Assim, o Rio de Janeiro e São Paulo abriram, aqui, suas colônias midiáticas de futebol, que “silenciosamente”, num processo quase “osmótico”, passaram a cooptar as mentes e corações dos torcedores alagoanos para seus clubes, em detrimento daqueles de sua terra. Tudo com o prestimoso auxílio, naturalmente, dos parentes (pais e tios) do recém-iniciado — que desde cedo apresentam os pequenos e inocentes rebentos às cores dos times do Rio de Janeiro e de São Paulo —, e de grande parcela da própria mídia tupiniquim, também ela densamente povoada de radialistas e jornalistas torcedores de clubes daqueles estados (embora alagoanos), formadores de opinião que são.

O fato é que torcer pelo time da terra e por outro, do RJ ou de SP, parece algo natural aqui em Alagoas. Aí o sujeito me pergunta: “Qual o seu time?” Respondo: “CRB”. Sim, mas fora do estado, insiste: “Nenhum”, respondo. “Sou exclusivamente CRB”. E às vezes complemento: “Não sou carioca, nem paulista, para torcer por times dos torcedores daqueles estados...”. Saco! (penso).

Há muitas coisas interessantes (e prejudiciais) nesse fenômeno. Algumas: na maioria dos casos o torcedor prioriza a compra da camisa do time de fora (basta olhar na cidade, mesmo em dia de jogo de CRB ou CSA), em notório prejuízo do já combalido, explorado e, por esses torcedores, em regra, abandonados times da terra; em Arapiraca, tem até torcida mista (MENGASA) — vê se pode; os times locais passam a ser de segunda linha também no coração e nas atitudes desses torcedores (pouco vão aos estádios, não participam da vida do clube nem pra reclamar...), e por aí afora.

Argumenta-se que isto se dá porque nossos times “seriam ruins”, que não disputariam as melhores competições nacionais. Ora, os times pernambucanos não estão muito distantes dos nossos, e lá não se ouve falar de torcedor que tenha outro time do coração que não o seu, daquela região. O próprio Santa Cruz/PE, por exemplo, que há anos não disputava um título do campeonato pernambucano e que vem, a duras penas, disputando a Série D do campeonato brasileiro, é um dos campeões nacionais de bilheteria. E enquanto aquele clube disputou 20 edições da Série A do Brasileiro, o CSA disputou 12 e o CRB, 9(*). Consideradas todas as competições nacionais, desde 1959(*), o placar é Stª (43) x CSA (39) e CRB (38). Se CSA e CRB não disputaram título de um Campeonato Brasileiro da Série A ou de uma Copa do Brasil, aquele tampouco, muito menos seu rival alvirrubro. A semelhança, aí, é flagrante, como o é, entretanto, a diferença (quando o assunto é fidelidade do torcedor).

Mas saiamos do vizinho Pernambuco e caminhemos ao Sul. O Avaí está, quando escrevo, disputando partida pela Copa do Brasil com o Vasco da Gama, válida pelas semifinais. Entretanto, aquele clube, cujos torcedores lhe são fiéis, ocupa a 39ª posição no ranking da CBF, enquanto CRB e CSA estão, respectivamente, na 36ª (à frente) e 48ª (pouco atrás) posições(*). Ah! O mesmo Avaí, em toda a sua história (foi criado em 1923) tem 7 participações na Série A do Brasileiro e apenas um título nacional (campeão da Série C, em 1998). Há diferença técnica, histórica ou de tradição que explique a infidelidade do torcedor alagoano para com seus principais e mais tradicionais clubes?

Outros argumentam que se for assim você não pode comer um acarajé baiano, ou tomar uma coca-cola norte-americana, ou mesmo admirar um artesanato pernambucano. Ora, ora, ora, e desde quando essas atividades são esportivas (competitivas por natureza)? Desde quando você torce pelo acarajé alagoano num campeonato de guloseimas à base de feijão?

Existem também os que dizem que isto não passa de bairrismo, ou mesmo de maniqueismo. Nem uma coisa, nem outra. No primeiro caso, porque não se está a impedir a valorização ou a admiração por qualquer time, brasileiro ou não. No segundo, porque se está muito longe de uma idéia do “bem” contra o “mal”. O que há é a constatação de que torcer-se por times de outros estados enfraquece os nossos, demonstra desimportância e pouco amor aos nossos (não fosse assim, por que se iria buscar outro para “amar”?) e realça e alimenta nossa baixa autoestima.

Há ainda aqueles para quem “o importante é ser feliz”. Bem, se torcer por um time do RJ faz um alagoano “feliz”, que torça. Felizmente (sem trocadilho), qualquer um tem o direito de torcer pelo time que quiser, seja lá de onde for. Tem o direito, por exemplo, de ir ao “Rei Pelé” torcer contra o Murici (do homônimo município do interior aqui do estado), quando este disputou com o Flamengo/RJ partida pela Copa do Brasil/2011. O Trapichão estava apinhado de alagoanos torcendo pelo time carioca, não por rivalidade ao Murici (que se viu jogando em sua casa — Alagoas — como se forasteiro fosse), mas porque são legítimos(?) flamenguistas. Direito têm. Mas resguarde-se o direito, por igual, de sofrerem críticas (respeitosas e pacíficas, naturalmente) por esse, digamos, estranho modo de amar o futebol de seu estado. Democracia e livre arbítrio é via de mão dupla.

Pra mim, razão (e paixão no foco certo) está com o amigo Alberto Maia, quando, há vários anos atrás, questionou-me do porquê de eu (então) torcer pelo Flamengo/RJ quando o meu time do coração (então dito e alardeado) era o CRB. Razão está com o flamenguista professor carioca de fisioterapia de minha sobrinha quando, observando a discussão entre alunos torcedores de seu time (embora alagoanos), perguntou-lhes se eles não tinham time para torcer em Maceió, já que o Flamengo era dos cariocas. Certo está o pai gaúcho de um amigo de meu filho (então na casa dos 8, 9 anos), quando o “repreendeu” porque ele estava a torcer pelo seu time, o Internacional (que acabara de se sagrar campeão do mundo), e demonstrou-lhe que não se pode ser fiel a dois, até porque são potencialmente rivais, e poderão sê-lo diretamente, mais dia, menos dia.

Razão, finalmente, está com o meu coração, que um dia felizmente me fez compreender que nele não poderia existir outro clube que não o meu CRB. A minha autoestima agradeceu. E a rima foi involuntária.
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- Também publicada na revista O Drible, edição 218, maio/2011, p. 16.
(*) Wikipédia

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Copa do Brasil, 16/11/2010, Estádio Rei Pelé: Eu fui Murici

Com todo o respeito ao alagoano que torce pelo rubro-negro carioca, continuo achando um desprestígio ao já desprestigiado (por todos os que ditam os gostos no país) futebol alagoano.

Constrangeu-me profundamente, por exemplo, a postura e as declarações do presidente do Murici, durante a reportagem de que participou, transmitida por rede televisiva carioca para todo o país. E não se diga (como se eu desconhecesse isto, ou desrespeitasse sua preferência) que ele tem todo o direito de vestir-se (e ao seu fusca) com as cores do adversário do RJ, como também tem o direito de cantarolar o hino daquele, ter três vezes mais camisas e desconhecer até a melodia do hino do que preside. Ele tem esse direito, sim, claro. Mas como toda atitude, que não é imune à crítica, a dele, ou a dos que assim agem, também não o é.

Claro que o referido cartola é para aqui apenas simbolicamente trazido porque é emblemático do que nos acomete: nossa impressionantemente baixa auto-estima, nossa contumaz prática de idolatrar o que é dos outros, mesmo, até, por vezes, quando de tanto se é alertado.

As razões para essa colonização existem e vêm dos tempos em que muitos de nossos pais ouviam a extinta Rádio Nacional transmitir o futebol carioca, chegando às grandes redes de TV carioca e paulistas nos dias modernos. Observe-se que o Inter/RS, por exemplo, um verdadeiro "papão" de títulos, não logra ter no nosso pobre e subserviente nordeste uma torcida minimamente significativa, enquanto o recente adversário do nosso alagoano Murici é detentor da maior torcida entre nós nordestinos. A razão determinante para isto é óbvia: temos nosso cérebro lavado, diuturnamente, com sua maciça propaganda midiática, velada ou escancarada, mesmo.

O que dizer-se, então, dos nossos times mais tradicionais? Mal geridos, sofrem ainda com nossos torcedores que não lhe são fiéis, não raro ocupando um segundo lugar em suas preferências. Ou alguém duvida que a maior torcida do estado não é mais a do Azulão, tampouco a do Galo de Campina (que hoje reivindica essa condição, pelo crescimento alcançado nos últimos 15 anos) mas aquela, formada por regatianos, azulinos, alvi-negros, etc., que torce pelo rubro-negro carioca? Qual será, mesmo, o lugar ocupado pelo Galo e pelo Azulão no coração de seus infiéis torcedores?

É por essas (e tantas outras  mais) que como torcedor de Alagoas e dessa ideia (que felizmente já é de muitos) torci muito pelo sucesso do Murici na noite de quarta (16), ainda que agir assim tenha parecido algo "quixotesco". Vi o contrário: não fosse a covardia do treinador do time alagoano, que resolveu fechar o time na defesa mal iniciado o 2o tempo de jogo, Davi poderia novamente ter vencido Golias e impedido, com isto, que o país testemunhasse os alagoanos e demais nordestinos presentes ao Rei Pelé, travestidos com as cores do time carioca, cantando e gritando palavras de louvor àquele, tripudiando de seus próprios conterrâneos, desgraçadamente humilhando a si mesmos.