Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Bolachas, acarajés e caranguejos (e o ASA, claro!)

Crônica
Um pacote de bolachas Cream Cracker Fortaleza. Foi. Terça-feira, 23/07/2008 — dia seguinte ao jogo contra o time cearense homônimo do referido biscoito, em que o CRB perdeu de 3 x 0 —, ganhei um pacote, inteiro, de um azulino estagiário de direito. “Dr. André, trouxe para o senhor”, disse-me, com ar grave, certamente de preocupação em abastecer-me de algo para lanchar nas manhãs e tardes de trabalho. Por um décimo de segundo pensei ter percebido uma eiva de cinismo indolente em sua expressão consternada. Recordo-me, inclusive, que ele ainda ressaltou: “Olha, doutor, vem com 3 pequenos pacotes dentro. Assim, o senhor abre um por vez, para não correr o risco de estragar os demais.” Ora, claro que eu estava enganado. O pretendente a advogado estava mesmo preocupado comigo. Mas por que justo aquelas Cream Crackers chamadas Fortaleza, justamente as minhas prediletas? Como adivinhara? E o destaque ao número de pacotes internos? Três pacotes... Hummm... Seria alguma referência ao jogo...? Não, claro que não. Bobagem, minha.

Imediatamente afastei esses pensamentos — que na verdade não permaneceram mais que alguns segundos, juro! — e, agradecido, pus a mão em seu ombro dizendo-lhe, quase emocionado pela lembrança surpresa: “Obrigado, meu rapaz. E para melhor demonstrar-lhe minha gratidão, próximo fim de semana, após o jogo do Galo no sábado à tarde, irei à Vitória da Conquista e à Itabuna, na Bahia, para verificar o andamento de uns processos particulares, e, na volta, almoçarei em Sergipe; daquele vizinho estado, faço questão de trazer-lhe, no mínimo, 2 cordas de caranguejos cevados, e dos municípios baianos ao menos 7 porções de acarajé, 2 de Itabuna e 5 de Vitória. Mas faço questão de comê-los com você, posteriormente.” Dei-lhe, então, agradecido, um forte abraço e saí à minha sala, com meu pacote de bolachas Cream Cracker Fortaleza debaixo do braço. Não sei porque, mas desta vez desejei fossem de outra marca.

Brincadeiras à parte, viva o ASA de Arapiraca, hoje orgulho único dos alagoanos! E aproveito para torcer que essa histórica vitória (6 x O, contra o Confiança, campeão sergipano), ocorrida na noite de ontem, sirva para diminuir o preconceito dos da capital com os nascidos no interior, curiosamente o mesmo preconceito que aqueles reclamam que lhes é devotado pelos nascidos no sul-sudeste do país.
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terça-feira, 22 de julho de 2008

Crônica de uma morte anunciada?

Crônica
15 anos, não ininterruptos, disputando, mal, a série C do brasileiro. 2 anos na 2ª divisão do futebol alagoano. 2008: um político de uma cidadezinha do interior alagoano é alçado presidente. Trazendo dinheiro não se sabe de onde, monta um time competitivo em nível de campeonato alagoano — desvalorizado e deficitário —, e sagra-se campeão, encerrando o jejum que amargava há 9 anos consecutivos. Dia seguinte, porém, está novamente abandonado, por muitos e pelo próprio político-presidente, com dívidas e sem dinheiro para disputar a mais cobiçada de todas as temporadas da série C, sequer em condições de manter o plantel com que disputou o regional.

Porém, graças ao socorro de um empresário respeitado (mas que não é do ramo) e do mais bem sucedido homem do futebol deste estado, acende-se uma luz. Não fosse este último, e a parceria que firmaram, disse textualmente o primeiro, não haveria condições mínimas de participação. Assim, usando toda a estrutura do parceiro (estádio, centro de treinamento, academia de ginástica, etc.), além de grande número de jogadores e do prestígio e conhecimento deste, pôde preparar-se para a competição. Entretanto, campeonato iniciado, veio a primeira derrota, a segunda, a terceira, e, pasmem, a quarta. É o pior colocado em sua chave e de toda a competição, de 63 clubes. Nenhum ponto marcado. Por quê?

Não sei. Dizem que o time não era(é) bom. Será? Será que o plantel disponível não estava(está) no nível de disputar uma Série C? Duvido. Alguns fatos, porém, chamaram-me à atenção: 1°) a estranha e mal-explicada, mas certamente inadequada substituição do técnico Jr. Lopes; 2°) a declaração do jogador Ricardo Miranda, de que havia dois grupos no clube, sendo um deles o dos jogadores da parceria; 3°) o emocional dos jogadores, já depois da 2ª derrota, dando mostras de que as haviam sentido; e 4°) a declaração do presidente do clube, jogando a toalha após a 3ª batalha perdida (se o presidente não acredita, quem vai acreditar?). Naturais “ondas” de torcedores rivais à parte, mais um baque para o já baqueado futebol alagoano. Até quando?
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Escrito em 20/07/2008
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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Parabéns, Dra. Helena e Nélson (e Gustavo)

Crônica
Quem foi pôde constatar a diferença de postura. Apesar do pouco tempo de atuação dos profissionais acima (e até de se tratar da estréia do Nélson como treinador), o CRB foi outro time contra o Brasiliense, na noite de sexta-feira última. Melhor armado taticamente e mais fortalecido emocionalmente. Melhorou o conjunto, atacou melhor, errou menos passes, chutou ao gol com maior precisão e defendeu-se com muito maior segurança e personalidade (mesmo quando sob pressão).

Técnico não joga. Em resumo, busca armar e escalar o time, imprimir um esquema de jogo, treina jogadas e adota as providências técnicas ao seu cumprimento, conforme o material humano de que disponha e os adversários que terá que enfrentar.

Psicólogo não joga. Em resumo, busca conferir aos jogadores o suporte emocional necessário a darem o melhor de si em campo, de modo a que venham à tona a tranqüilidade, a garra e o estímulo necessários, seja ao aproveitamento do máximo de seu potencial técnico, seja à aplicação das técnicas imprimidas e perseguidas pelo treinador.

Poderia ter perdido o jogo? Claro. Basta ver-se que quando o plantel (futebol é coletivo, não se pode esquecer!) não é composto de jogadores suficientemente hábeis no seu ofício não há psicólogo ou técnico que dêem jeito, pois não há milagre. Nem técnico, nem psicólogo são a panacéia, remédio para todos os males. Nem um, nem outro pessoalmente fazem gol ou o evitam. Não fosse assim, bastava escalar 11 técnicos ou 11 psicólogos e seria a certeza da vitória. Mas são importantíssimos, fundamentais para o desenvolvimento profissional de um clube que busque tornar-se efetivamente grande.

Parabéns! A ambos! E parabéns ao Gustavo Feijó, que teve a sensibilidade necessária para novamente aceitar a ajuda da competente, guerreira e corajosa Dra. Helena. Que seja mantida no Galo, são meus votos. Ele precisa. Vocês viram.
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sábado, 12 de julho de 2008

Aos regatianos


Crônica
Ninguém que acompanhe minimamente o futebol alagoano desconhece o dificílimo momento por que passa o CRB. Aliás, a última declaração do presidente em exercício do clube é perfeito corolário disso: “O CRB precisa sair desta situação. Como? Só Deus vai saber dizer”. Deus do céu, rogo eu! Onde o Galo foi parar...?

Pois bem, penso, entretanto, que a hora não é de caça às bruxas. A hora não é de críticas vorazes, de movimentos de intransigência, tampouco de desunião, de violência. O CRB está doente, e doente algum levanta na porrada, muito menos com “ovadas” (fosse assim, teria goleado a Ponte Preta). O presidente executivo atual é limitado? Pode ser. É amador? Deve ser. O Conselho é fechado, parte dele é omisso, e quando sai da omissão o faz apenas parcialmente e aparentemente em busca de holofotes? Parece que sim. O time não vem se encontrando em campo? Vem não. Tá com o emocional em frangalhos? É notório, escancarado até para quem de psicologia só conhece o nome. Seus jogadores (e funcionários) estão com salários atrasados? E então! A sorte também resolveu fazer greve nas bandas da Pajuçara? Oh!, e como! Quanto a energia tá ruim, amigo, dá as caras em todo lugar.

Todas essas dificuldades existem, todos esses fatos ocorreram ou ocorrem. É verdade. Mas o que importa, hoje, meus amigos regatianos, é ajudar o CRB a se levantar. Nesse sentido, que cada um faça a sua parte. É no CRB que devemos pensar. É para ele que precisamos canalizar (boas) energias. Se o presidente é limitado como se diz, se o conselho tem os defeitos que tem, se o time está mais abalado do que o cabra que leva uma pisa, seus torcedores precisam, agora, é (continuar a) ser a parcela sadia que poderá ajudá-lo.

Olhem ao redor, meus caros. Vejam a dificuldade por que atravessa, há longos anos, o maior rival do Galo, o CSA. Aprendamos com seu infortúnio. Esqueçam, por um momento que seja, a rivalidade com seus torcedores (a sadia, porque a outra, naturalmente, é caso de polícia) e imaginem o que vêm sofrendo, as dificuldades enormes que vêm enfrentando para manterem o seu clube vivo. Não é pouca coisa, não! Tenho vários amigos azulinos (escolho amizade pelo caráter, não pelas cores que defende) e me solidarizo com eles. E olhe que seu time foi, com justiça, Campeão Alagoano/2008.

Agora, pensem: e se o CRB não tivesse a Série B do Brasileirão? É, a Série B, sem títulos, com os 3 ou 4 últimos anos penando para não cair. Essa mesmo! Imaginem-se (mas só por alguns segundos, por favor!), meus caros torcedores, sem a bendita Série B. Pois é preciso lutar, continuar lutando! Esse campeonato é tão importante para um clube alagoano, mas tão importante(!), que se, num exercício surreal de imaginação, fosse obrigatório escolher, durante os próximos 10 anos, entre ganhar o campeonato regional, ou ter o direito garantido à Série B (que naturalmente possibilita lutar pelo acesso à Série A), tenho a convicção de que enorme parcela dos alvirrubros — senão a imensa maioria — escolheria este último, mesmo ansiando há mais de 5 anos pelo título estadual e considerando a sua inegável e imensa importância para a história de um clube.

O fato, regatianos, é que o maior patrimônio, hoje, do CRB e de sua torcida é o Campeonato Brasileiro da Série B. Nele, entretanto, o Galo chegou ao fundo do poço. Mas, um alento: se o poço tem fundo, e o Galo lá está, o poço ainda continua aberto na superfície, para o consolo dos seus torcedores (e estímulo!). É!, foi fechado não! Nada está perdido, ainda! À sua torcida, essa torcida fanática, apaixonada, vibrante e fiel — impressionantemente fiel —, cabe ajudá-lo (continuar ajudando, ainda com mais entusiasmo) a sair dessa enrascada. Numa palavra: apoiando. Não há outra saída, meus amigos, que não apoiar.
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Escrito em 10/07/2008
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A hora, mais do que nunca, é agora!

Crônica
Agora! Sim, na lanterna. Sim, na 20ª (e inédita) posição em 15 anos de Campeonato Brasileiro da Série B. Sim, no meio de uma crise sem precedentes fora de campo. Sim, quando não se sabe quem manda. Sim, quando não se sabe se alguém manda (talvez se saiba...). Sim, com 5 míseros pontos conquistados em 27 disputados. Sim, com o seu (para muitos) único ídolo (para outros, apenas um jogador esforçado; para alguns, um mero, talvez habilidoso, fazedor de pipocas) recebendo ovos de reconhecimento e gratidão, de quem antes o aplaudia e ovacionava (sem trocadilho). Sim, com um Conselho (ou parte dele) extremamente prestimoso para exigir prestação de contas da atual administração, mas sem o mesmo apetite para fazê-lo de administrações anteriores. Sim, com um Presidente (afastado) que não se entende(ia) com parcela do Conselho, e com uma parcela do Conselho que parece(ia) fazer questão de não se entender com ele. Sim, com um Presidente, em exercício, aparentemente enfiado goela abaixo da Diretoria e do próprio Conselho, embora tenha sido por este (parcela deste, a que parece que manda) indicado. Sim, com seu imenso patrimônio “destruído” relegado a uma ínfima parte do que já foi. Sim, com os que o destruíram impunes graças à (nossa) passividade eterna do torcedor. Sim, com suas dívidas astronômicas. Sim, com um Trapichão manco, que funciona pela metade, por obra de administrações incompetentes, ou preguiçosas, ou lerdas, ou tudo isto junto. Sim, com os salários de funcionários e jogadores atrasados. Sim, sim, sim...

Pois mesmo com todos esses “sins”, o torcedor que se diga regatiano tem a obrigação, o dever, mesmo(!), de ir ao Trapichão hoje à noite apoiar o seu Clube de Regatas Brasil, torcer por ele, cantar para ele, fazer jus ao hino do clube (quem não conhece, já passou da hora de conhecê-lo), à sua história de glória e tradição, ao amor e ao orgulho que se alardeia sentir pelas cores do Galo de Campina. Numa palavra: apoiar! Torcedor que é torcedor — e o CRB tem pelo menos a felicidade de ter a briosa e apaixonada torcida que tem — apóia o clube é nessa hora indigesta, nessa hora em que todos esses “sins” resolvem se juntar para abater o nosso clube. Torcedor que é torcedor ama o seu clube. Ama incondicionalmente. Mesmo com tantos “sins”. Antes, até por causa deles. Avante, Galo! Seus torcedores te dão a mão. É hora de levantar-se!
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Escrito às 1ªs. horas de 08/07/2008, antes do jogo CRB x Ponte Preta/SP
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sábado, 5 de julho de 2008

Algumas palavras sobre o Jr. Amorim


Crônica
Final do mês de março/2006, Misomar Rodrigues de Amorim Júnior, o Jr. Amorim, chega à Pajuçara e é apresentado ao Clube de Regatas Brasil como novo reforço para as disputas dos campeonatos Alagoano e Brasileiro da Série B. A partir de então o atacante constrói uma relação admirável com o clube. Raríssima, quase inédita hoje em dia, registre-se. A propósito, e salvo engano, outro exemplo atualmente só encontro em Rogério Ceni e o São Paulo Futebol Clube. E se a do jogador tricolor paulista é mais íntima, porque mais antiga, a de Jr. Amorim com o CRB é realçada e amplificada por ter sido criada e mantida com um clube do nordeste do Brasil, prenhe das graves dificuldades financeiras e estruturais que praticamente impossibilitam (salvo raríssimos exemplos, como o dele) o surgimento e, principalmente, a manutenção de uma relação com essas características.

Jr. Amorim, além da notória habilidade com a bola, ótima visão de jogo e admirável presença na área — qualidades que lhe renderam, para restringir-se apenas a este ano de 2008, a artilharia do campeonato alagoano e o título de Craque do Estadual (mesmo havendo o clube que joga, e que escolheu(!) para jogar, realizado um péssimo 1º turno e um apenas razoável 2º turno) —, parece um “menino” em campo, pelo fôlego e dedicação que devota ao time que integra. Poucos vi, em minha vida, defenderem com tamanha bravura (e competência) as cores de um clube. Poucos vi correrem tanto aos dezoito anos. E ele tem trinta e tantos!

Ainda em 2006 Jr. Amorim, já ídolo da torcida, passou por maus momentos no CRB por desentendimentos com o então treinador do clube. Foi, por isto, deixado à mais absoluta margem do plantel de jogadores e dos jogos então disputados no Brasileiro. Mas não foi embora — nem do clube, nem da cidade —, nem se deixou abater. Quando finalmente o então técnico foi dispensado — em decorrência dos maus resultados experimentados pelo Regatas —, as portas lhe foram novamente abertas, mas mesmo assim não sem dificuldade, já que a má fama que se tentou colar no jogador deixara seqüelas. Jr. Amorim enfim retorna ao time e, já no primeiro jogo, faz uma ótima partida, a despeito do longo tempo sem jogar e treinar.

Estamos em 2008. Jr. Amorim permanece no CRB, inclusive para o deficitário Campeonato Alagoano da temporada, bem assim para o Brasileiro da Série B, a despeito dos convites que recebeu, financeiramente mais vantajosos, de outros clubes do país. É que o atleta, além da identificação visível com o Galo, foi conquistado, também, pela cidade e pelo povo que o acolheu, tanto que pretende ingressar na política, lançando assim, definitivamente, as bases necessárias para a construção do seu futuro em terras alagoanas, quando obrigado for a deixar o futebol e o Clube de Regatas Brasil.

Atualmente o CRB faz uma péssima e, nesse sentido, inédita temporada no Brasileiro. Quando escrevo conta com apenas 5 pontos, em 27 disputados. É o lanterna da competição. Nesses 9 jogos disputados (mas ele não jogou todos), jamais vi o Jr. Amorim fazer corpo mole, demonstrar cansaço ou preguiça. O fato de não vir mostrando o seu melhor futebol nas últimas partidas em nada altera essas considerações, afinal como jogar sempre bem num time que apresenta esse desempenho? Alguns dizem que gosta demais de uma balada. Não sei se demais. Mas deve gostar de se divertir, certamente. O fato é que não analiso se gostaria, ou não, de vê-lo namorado de alguma parenta minha, para estar me preocupando com isto. Analiso o futebol e a dedicação que apresenta. Assim, não tenho do que reclamar. Se continuar jogando como sempre jogou pra mim está ótimo.

Isto é um pouco do que vi e penso sobre o Jr. Amorim. Não é qualquer clube no Brasil, o que dizer no nordeste do país, que tem o privilégio e o orgulho de ter, no seu plantel, um jogador como ele, um ídolo mesmo, em pleno séc. XXI. Final do Brasileiro/2006, eu e um grupo de amigos fizemos uma (quase) silenciosa homenagem de agradecimento a algumas poucas, pouquíssimas pessoas que, em nosso entender, ajudaram o CRB naquele certame. Uma delas foi o Jr. Amorim. E até agora ele continua merecedor de nossas homenagens. E de nosso agradecimento.
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Escrito em 04/07/2008
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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Prestação de contas: as dúvidas

Crônica
Prestação de contas é imprescindível em qualquer administração que se pretenda transparente, organizada e que respeite quem faça jus a conhecê-la. Com mais razão um clube de futebol. Não houvesse sócios — por incrível que possa parecer no CRB ainda há, mesmo à míngua de vida social, que o clube não mais tem (acabaram com tudo, e deixamos acabarem com tudo, seja quando não prestigiamos o clube, seja quando o substituímos por outro, de fora, nos seus insucessos) —, não houvesse craques(sócios)-torcedores, não houvesse conselho deliberativo, ainda assim haveria o torcedor que “apenas” compra o seu ingresso e vai prestigiar o time no estádio, o maior patrimônio de qualquer grande e tradicional clube, que, por isto mesmo, tem o direito (moral) de ser destinatária desse ato administrativo.

Assim, penso seja direito (dever) do conselho deliberativo do clube solicitar (e, se o caso, exigir) a prestação de contas dos atos de seus administradores. Não sendo assim, a existência desse órgão estaria comprometida, no mínimo, por sua quase inutilidade. Só não consigo entender duas circunstâncias que cercaram o pedido de prestação de contas formalizado à atual diretoria do Clube de Regatas Brasil: a primeira consiste na forma e a segunda no alcance. Explico, consignando as dúvidas que dificultam meu pleno entendimento.

Quanto à forma: por que um pedido de prestação de contas realizado no âmbito administrativo e, portanto, interno do clube, sendo o primeiro formalizado e não se tendo notícia de que não seria atendido tem que ser levado a público desde logo, divulgado destacadamente pelos microfones da imprensa radiofônica?

Quanto ao alcance: diz-se que não se presta contas no clube (ou ao clube) desde 2002. Por que, então, não se aproveitou a oportunidade para solicitá-la de quem de direito, alcançando esse período? Sabido que enorme parcela das imensas dívidas do clube dizem respeito a momentos bem anteriores ao atualmente vivido, por força das quais o CRB vem, inclusive, perdendo seu importante patrimônio, não raro a preço vil (vide a própria sede, na Pajuçara), por que não se aproveita e apura a sua gênese?

Seja como for, espero que a atual diretoria aproveite essa oportunidade que lhe foi conferida para — cumprindo, inclusive, sua obrigação — atender, técnica, prestimosa e detalhadamente, ao pedido de prestação de contas que lhe foi formalizado. Ótimo que lhe tenha sido dada essa oportunidade. As minhas dúvidas, acima... bom, são só dúvidas.
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Futebol é para profissionais

Crônica
O futebol não mais aceita amadorismo. Podem ser bem-intencionados, dedicados, abnegados, valentes, apaixonados pelo clube que dirigem, mas se não forem profissionais o clube não se fortalece, não se desenvolve, não cresce. Ao contrário, enfraquece, diminui, morre.

Profissionais, hoje, são aqueles com espírito empreendedor, visão empresarial, que inclusive recebam salário por seus serviços. Não basta, sequer, ser um grande conhecedor das manhas do meio futebolístico. Tem que saber fazer o clube ganhar dinheiro. Pires na mão atrás de benfeitores já era. E tem que ganhar dinheiro com seus serviços, às claras, tudo devidamente documentado. A época do requisito de toda a diretoria de um clube de futebol ser por ele apaixonada e trabalhar de graça acabou, e faz tempo. Os funcionários de uma grande empresa e sua diretoria, não a tornam grande porque são por ela apaixonados, mas porque crescendo ela, crescem eles.

A despeito de faltar-lhe um dos componentes de um grande clube de futebol — a torcida —, temos, mesmo assim, e aqui mesmo em Maceió, um exemplo perfeito e acabado de sucesso de um time de futebol alcançado pela competência empresarial: o Corinthians Alagoano. Um clube com apenas 17 anos é já indiscutivelmente vitorioso, seja por sua excelente estrutura — excelente! —, seja por sua invejável situação financeira, seja pelos títulos que já conquistou (tanto no futebol amador como no profissional) ou pelas respeitáveis posições que alcançou nas competições disputadas, do que é exemplo sua última e honrosa (e inédita, no âmbito do nosso futebol) participação na Copa do Brasil/2008. O responsável por isto? Um (muito) competente empresário do ramo futebolístico. Conhece como poucos o meio em que trabalha (o futebol) e o trata com absoluto rigor profissional, vale dizer, empresarial, perfeitamente adequado aos fins principais objetivados por seu projeto.

Claro, diferenças se põem como inevitáveis (e necessárias) entre o dirigir-se um CRB, CSA, ASA, e outros tradicionais clubes do estado, e o Corinthians Alagoano. Por exemplo, inadmissível que o Presidente de um desses clubes percebesse remuneração pelo exercício do cargo: remuneração receberia diretores em funções estratégicas, como a do futebol profissional, com metas a alcançar e tudo o mais. Mas a essência dessa administração poderia (deveria) sim ser imitada, aprendida, seguida. Temos uma faculdade de futebol de respeito em nossa pequenina (e nordestina) Maceió, mas fazemos questão de não enxergá-la. Os interesses pessoais, a disputa (não raro nojenta) pelo poder, a visão tacanha, mesquinha, ou simplesmente ignorante nos impede de cursá-la. No mínimo a ignorância burra, que é aquela possuída por quem não quer deixar de ser ignorante. O contra-senso, a contradição é que os mesmos que agem movidos por esses interesses — que não são, naturalmente, os interesses do clube — são os que se dizem apaixonados por ele.

Ah! Quem quiser saber mais sobre o Corinthians Alagoano pode encontrar muitas informações na internet, em seu site oficial. Sim, eles não têm quase 100 anos, mas têm site oficial. Naturalmente. Aliás, se hoje em dia um clube que se pretenda (ou se diga) grande não consegue, sequer, manter um site oficial...
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Escrito em 02/07/2008
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Retrato do futebol(torcedor) alagoano?

Crônica
Embora guardadas as proporções, guardadas as diferenças, guardados mais o que você quiser, caro leitor, mas o fato é que não foi um fim de semana legal para o futebol maceioense (restringi à capital porque o ASA felizmente venceu).

Primeiro, foi péssimo para o CRB, que além de ter perdido dois pontos, ainda deixou de converter um pênalti aos 47 minutos do 2° tempo. O jogo foi oficial, como sabido, válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Não, fala sério! Tão fáceis não as coisas lá pras bandas da Pajuçara.

Segundo, foi ruim, ou se não preocupante ao menos desagradável para o CSA. Além da derrota, em si, e a despeito de ter sido um amistoso, claro que não é bom perder quando se está às portas de iniciar o Campeonato Brasileiro da Série C, para a preparação do qual o jogo foi realizado, e de técnico novo, este para muitos açodadamente contratado, como açodada, para esses, foi a dispensa do treinador anterior.

Pois bem, com tudo isto (maus resultados dos times tupiniquins de Maceió), e excetuando as pessoas mais íntimas, os comentários que me chegavam eram principalmente sobre a vitória do Flamengo/RJ e a sua conseqüente liderança no Campeonato Brasileiro da Série A.

Ora, ora, ora, ôme deixa disso! Como é que os dois principais times do estado sofrem o dissabor de perder dois pontos, um, e de ser derrotado, ainda que num amistoso, o outro, e o povo vai falar de vitória de Flamengo ou de sei mais lá o quê! Aí abro apenas uma exceção: o Corinthians Paulista, porque espero suas pernas já se tenham começado a quebrar a partir desses dois últimos jogos. Pelo (in)sucesso deste me interesso, porque é adversário do CRB e (ainda) espero vê-lo levando uma pisa do Galo no Trapichão. Mas os outros... Ôxe!

Pois aqui nas Alagoas, mais precisamente em Maceió, a impressão que tive é que o jogo do Flamengo foi mais comentado do que os dos clubes da Pajuçara e do Mutange! É triste, mas foi o que me pareceu. Afinal, o que sentiu Maceió, ontem? Tristeza (ou chateação, ou preocupação, ou qualquer sentimento parecido) por seus dois mais tradicionais clubes, ou alegria pela vitória dos de fora? Ou se consolou no sucesso dos Flamengos da vida? Oh, Alagoas, quando teus filhos olharão para ti, quando não te dividirão com ninguém?
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Escrito à 1ª hora do dia 1°/07/2008
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