Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Por que o CSA não(?) é o favorito?

Crônica
Porque não deixam. Porque se convencionou, principalmente na imprensa alagoana — onde a voz é monocórdia nesse sentido —, que em clássico não há favorito. Ora, quem são os favoritos para os próximos Corinthians x Santos e Flamengo x Botafogo? Nove entre dez cronistas esportivos apontam o alvinegro paulista e o rubro-negro carioca. As razões? Várias, num e noutro caso, e vão desde desfalques importantes, passando pela fase mais favorável a um do que a outro, até à própria diferença técnica-teórica (ou não) do plantel de cada um.

Aqui, não. O CSA/2009 sempre teve aquele que é considerado o melhor plantel. Mais contemporaneamente, já deu mostras, escancaradas, de que o seu plantel é bom também na prática, tanto que desclassificou, na Copa do Brasil 2009, nada mais, nada menos, do que o Peixe, esse mesmo que é finalista do Campeonato Paulista. Detalhe: venceu na casa do adversário. Além de fazer uma ótima campanha naquele certame nacional, venceu (e, principalmente, convenceu) o último jogo no Rei Pelé, contra o Murici, no alagoano. Hoje, embora ainda presentes as dificuldades, não são poucos os que já acreditam piamente na sua classificação, o que é quase natural, analisado o quadro atual. E se ganhar do Coritiba, logo mais, aí será mais favorito do que nunca.

Por outro lado, percebe-se, com no mínimo razoável nitidez, que muitas das melhores energias (torcida) — não apenas as vindas de seus torcedores, mas também as egressas de significativa parcela da imprensa tupiniquim, embora, neste caso, não confessadas — são direcionadas ao Azulão do Mutange, no sentido de que logre êxito na sua permanência (quiçá classificação) na 1ª divisão do alagoano (o que é até compreensível, diga-se, embora questionável).

Já o CRB, de time modesto, de folha salarial barata, envolvido em enormes dificuldades financeiras — que o impedem, por exemplo, de concentrar-se em hotéis de luxo (para ficar só num exemplo) —, vindo de um vergonhoso resultado (com todo o respeito ao Ipanema) e de um horroroso futebol praticado no sertão alagoano, prenhe de meninos pratas-da-casa — de experiência nenhuma ou mínima —, apresenta-se em franca desvantagem na análise que se promova acerca da existência de algum favorito. Certamente que ele não é.

Agora..., clássico é clássico. Qualquer um pode ganhar, e não será zebra. Mas favorito, se um está em melhor situação do que o outro, claro que há. Teoricamente, porém... Quanto a mim, que sou declaradamente CRB, não posso esconder — nem ninguém acreditaria, donde sequer posso usar de alguma hipocrisiazinha — que torço pelo Galo, e que, nesse sentido, até gostaria que o favorito fosse ele, já que enxergaria nele mais chances (teóricas) de vitória. Mas considero lastimável para o futebol alagoano se o Azulão voltar a experimentar o infortúnio vivido em 2003. Na verdade, gostaria que a disputa entre os dois fosse pelo título. Como (muito!) antigamente. É como penso e sinto. Não vou mentir.
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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um estranho no ninho (2)

Crônica
Domingo, 26 de abril, jogo do Galo contra o Ipanema. Ia assistir em casa, mesmo. Mas conversa vai, conversa vem, meu filho me convence pra gente ir assistir em algum restaurante. Pela folia, sacomé? Não sabia ele que iria ser um baita dum programa de índio (eita! foi mal, pelo clichê preconceituoso). Antes, eu o alertara que não iria ser nada fácil a gente encontrar algum pra assistir ao jogo, já que na mesma tarde haveria decisões dos campeonatos carioca e paulista, as quais, como é de todos sabido, até parecem decisões de campeonatos alagoanos, dado o imenso público que acorre aos bares para vê-las.

Estava prestes a desistir, quando ele me lembrou de um, lá na Amélia Rosa. “É! Pode ser. Como não é um bar, propriamente dito, talvez passem o jogo do CRB”, respondi. Compromisso acertado com o proprietário, estacionei o carro, escolhemos a mesa, fizemos os pedidos preliminares e aguardamos. Começou o jogo. À parte aquela “maravilha” de futebol que presenciávamos, tudo estava correndo bem. O amigo do meu filho, que nos acompanhou, aproveitou o embalo para me perguntar por que eu só torcia para o CRB, ao que respondi desfiando-lhe algumas razões. Mais uma semente lançada contra essa idéia disseminada de que é normal torcer por um time do Rio ou de São Paulo, além do seu, do seu estado (inclusive com primazia para aquele, como se vê). Veio o intervalo. E aí...

Aos poucos foram chegando alagoriocas rubro-negros. “Até aqui, Brutus?”, pensei. Ao mesmo tempo, como num passe de mágica, o aparelho de TV — aquele mesmo em que assisti ao 1° tempo do Galo em relativa paz (até então, só o CRB me tirava a paz, e eu ainda não havia visto nada) —, já estava sintonizado na Bobo, digo, na Globo. Meu filho me cutucou, provocando-me, quase angustiado: “Pai, tiraram da Record!” “Calma, confortei-o. É só no intervalo. Quando recomeçar eles voltam.” Mas como eles — os alagoriocas — não paravam de chegar, e o proprietário começava a exibir um sorriso amarelo-aflito, pressenti que se eu não tomasse uma providência poderíamos sair dali com “o rabo entre as pernas” (foi mal, o bordão; mas há outro pra expressar melhor a situação que se avizinhava da gente?).

Assim, preventivamente, relembrei ao avexado empresário o compromisso assumido, solicitando que voltassem a sintonizar imediatamente a Pajuçara, já que o 2° tempo (arghh!) já teria reiniciado. Atendera-me! Bem, atendera-me instalando uma TV de pouco mais de 14 polegadas próxima a minha mesa, reservando a anterior, de plasma ou LCD, e de cerca de 32 polegadas, para os novéis (e muito mais numerosos, diga-se) clientes alagoriocas. O interessante é que nova e mixuruca TV foi direcionada também para uma mesa que estava à oeste da nossa, numa distância da bichoca-lixa-preta-doida. É que nessa mesa havia alguns alagoanos que, observando o movimento “carioca”, ameaçaram ir embora se fosse alterado o jogo da TV (ainda que não estivessem prestando essa atenção toda). Bem..., vão-se os anéis, ficam os dedos. Antes assim, dando uma de generoso, do que ficar sem TV alguma. Pior: sem assistir ao jogo, já que quando chegássemos em casa já teria passado quase todo o 2° tempo (até então a gente não sabia que não teria perdido nada).

Assim, aceitamos tacitamente a “justa” troca, engolindo mais essa humilhação decorrente de sermos torcedores de um time da terra, frente a torcedores, também da terra, mas prioritariamente de times de fora. É isso. Mas..., que mal há, afinal, para o futebol alagoano, essa predileção? Muito melhor mesmo que seus filhos se abastardem, tornando-se, com cada vez maior convicção, filhos de terras outras.

E eu continuarei aqui, estranho,... ainda que no meu próprio ninho.
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Por isto é que o futebol é como é (2)


Crônica

Conversando, ontem, com amigos azulinos e regatianos, em todas as oportunidades manifestei-me no sentido de que o CSA poderia surpreender, sim, o Santos. Elencava algumas razões para considerar essa possibilidade: o CSA, até porque vem fazendo uma péssima (e injustificável, embora explicável) campanha no campeonato alagoano, iria jogar nessa partida o que tinha e o que não tinha, com o perdão do clichê; apesar da tal campanha, mostrou que tem um bom time, e não só no papel, tanto que empatou com o mesmo Santos há poucos dias; o Santos, por sua vez, estaria com suas atenções voltadas, principalmente, para a decisão do campeonato paulista — que além de ser o mais importante estadual do país, traz aos disputantes (como em qualquer regional, ressalte-se) toda a intranquilidade marcada pela rivalidade construída ao longo de anos —, já que é um dos finalistas e o primeiro jogo ocorrerá no próximo fim de semana; entraria, ontem, com um time mesclado com alguns reservas; a despeito do retrospecto que não lhe era favorável (o empate em 0 x 0), não é absurdo algum imaginar-se que davam a vitória (e a classificação) como favas contadas (ainda que publicamente não o confessassem); e finalmente, a sorte: o CSA poderia, sim, ter a sorte a seu favor.

Como não sou vidente — foi apenas um chute certeiro e recheado de previsibilidade rasteira —, diferentemente de um amigo azulino que me confidenciou, em tom de brincadeira, ter uma vidente lhe assegurado que o Azulão venceria a partida, a reflexão que fica, pra mim, é a de que testemunhei mais uma razão (ou várias delas) para compreender o porquê de o futebol ser apaixonante como é.

Afinal, como crer-se que uma bola batida na canela (ou no joelho) do atacante poderia ser-lhe favorável, enganando o goleiro e facilitando o chute seguinte indefensável? Como crer-se que o time mais rico, mais técnico e mais poderoso poderia desperdiçar as inúmeras chances de gol que teve, seja porque competente (ou seria milagroso?) o goleiro adversário, seja porque incompetente a finalização em si? Como crer-se que o vice-lanterna e em crise escancarada, de um campeonato pobre e desorganizado como o nosso, venceria o finalista do melhor campeonato estadual do país? Mais: com um jogador a menos durante boa parte do jogo!

Como crer-se? Simples: isto é o futebol. E que bom que é assim. E que bom que foi bom para Alagoas.

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*Foto: Futebolalagoano.com
*Escrito em 23/04/2009 (não postada, à data em que produzida, por absoluta falta de tempo)
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Por isto que o futebol é como é

Crônica
Veja-se o caso do CSA. Até ontem, quase não se falava em outra coisa na imprensa que não no seu iminente rebaixamento. O fantasma do rebaixamento vivido há poucos anos, e o desespero para não vir a novamente experimentá-lo, revivido em 2007 (ou foi 2006? Oh, memória!), voltou a atormentar o quase centenário clube.

Nessa seara, ouviram-se manifestações que transitaram entre desde as mais sóbrias até as mais estapafúrdias. Das primeiras, é exemplo a do dirigente Raimundo Tavares, que demonstrou sequer cogitar da hipótese de tentar manter o seu clube na 1ª divisão via dos artifícios moralmente questionáveis (para dizer o mínimo) antigamente utilizados no Brasil — crê-se que só antigamente, mesmo —, o que é um alento, em meio a tantos absurdos que se testemunha nesse nosso futebol alagoano. Das segundas, infelizmente o exemplo foi protagonizado pelo seu Presidente “Rainha da Inglaterra”, o outrora prestigiado Abel Duarte, que não bastasse o inferno astral em que se colocou e se mantém — o mais recente dissabor foi ter tido há poucos dias a sua autoridade negada, em público, por um funcionário (jogador) do clube —, deixou ventilar, em matéria que li em O Jornal, edição de terça-feira última, que, se não restassem outras alternativas, esse poderia ser um caminho a ser seguido, na esteira do dirigente Capelense, José Cláudio, que com espantosa, digamos, naturalidade, consegue encher a boca para defender, agora, porque às portas do rebaixamento, a asséptica tentativa de anular o campeonato cujas regras foram pelos próprios acolhidas.

Hoje, entretanto, com a vitória apertada, suada e desesperada obtida frente ao bom time do CSE, acendeu-se uma luz no fim do túnel e todos respiraram mais aliviados, a despeito de ainda na malfadada e indesejada zona de rebaixamento (mas só a um ponto do adversário imediatamente melhor colocado que ele). Fico a imaginar o alívio que não foi, para seus torcedores e dirigentes, o golzinho salvador aos 45 minutos do segundo tempo. E como não o será, para eles, a emoção, caso logrem espantar definitivamente o malfadado fantasma. Nesse ponto (imaginar) não me é nada difícil. Afinal, como comemorei, ruidosa e alegremente, a permanência do Galo na Série B em 2005 e 2006. É de comemorar-se, mesmo!

Falando em CRB, o gol no finalzinho do jogo, que trouxe um pouco de alívio ao CSA, para livrá-lo do rebaixamento, foi “o mesmo” (pois que também no final da disputa, esta contra o bom Corinthians Alagoano) que diminuiu as chances de classificação do Galo, pois que por ele sofrido. A disputa está cada vez mais acirrada no forte e equilibrado Grupo B. Um deslize e o prejuízo é enorme. Daqui pra frente, poderá ser irreparável. Mas as chances estão aí, ainda para serem aproveitadas pelo clube da Pajuçara, que mantém-se organizado e vivo, com seu time modesto mas, na sua realidade, inegavelmente competente.

O fato é que basta um jogo para, com seu resultado — previsível ou, principalmente, imprevisível(!) —, mudar de alguma maneira o clima nos clubes, suas chances, seu presente, seu futuro. Por isto (e por muitas outras coisas) é que o futebol é como é: apaixonante.
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Escrita em 18/04/2009
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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Emoção e alguns... detalhes


Crônica

Emoção até umas horas! Pra ambos os lados, verdade se diga, mas pro torcedor alvirrubro..., Nossa Senhora!, foi emoção demais da conta, caba veio! E especialmente para o torcedor do Galo, entre outras por uma razão tão simples quanto óbvia: venceu o jogo contra seu maior rival, o CSA — atual campeão alagoano e, disparado, o melhor plantel no papel —, e está mais vivo do que nunca na luta pela classificação. Sim, porque depois da queda da Série B, o CRB finalmente voltou a olhar com cuidado e a dar valor ao campeonato alagoano: já não era sem tempo.

Algumas outras razões para a alegria da moçada alvirrubra:

1. É um dos times mais modestos de todo o campeonato, formado em grande parte de jovens pratas-da-casa, e está apresentando um desempenho muito superior ao de outros — dos quais seu arquirrival é o maior exemplo —, que, entretanto, contrataram plantel com cifras muito superiores, grandiosas até para a realidade do nosso campeonato;

2. Começou desacreditado, mas com a esperança e o apoio da torcida alvirrubra e da nova diretoria, foi se firmando pouco a pouco, e hoje consolida, pode-se dizer, a evolução que se anunciava;

3. “Perdeu” três importantes nomes para o mesmo CSA, o que induvidosamente mexeu com os brios de sua torcida: o ex-pretendente a ídolo, Jr. Amorim, que hoje mal pronuncia o nome do time que o acolheu há três anos; o goleiro Jefferson, até então querido e já identificado com a torcida alvirrubra, cujo contrato não foi assinado pelo CRB porque sua diretoria recusou-se, com absoluta e elogiável responsabilidade, a comprometer-se com o valor da multa lá prevista, diferentemente de muitos cartolas que já passaram pela Pajuçara; e o treinador Julio Espinosa, que segundo explicou pediu para sair porque confessou-se infeliz, mas poucos dias depois, recuperando a felicidade perdida, já estava empregado no Azulão (pura sorte!). “Perdeu” os três, entretanto, venceu o rival, apesar de tudo e deles, e com a prestimosa ajuda do ex-armador azulino, Da Silva, trazido para o CRB quando então encostado no Mutange;

4. Está satisfeito com o trabalho desenvolvido por sua atual diretoria e com o CT da Pajuçara funcionando (campo, escolinha, concentração), modestamente arrumado, mas limpo e agradável; não bastasse, novo e belo site, loja por abrir, movimentos organizados de absoluto valor despontando e se firmando (CRB Acima de Tudo, Movimento Galo pra Frente, CRB Meu Único Time), projeto do novo estatuto elaborado e entregue ao Conselho Deliberativo, Sócio-Torcedor crescendo com consistência, rifa para construção da nova arquibancada indo de vento em popa,... enfim, a coisa tá caminhando bem lá pras bandas da Paju. Devagar, mas está.

Os detalhes. Bem, os detalhes, que tornaram esse final de clássico particularmente saboroso aos regatianos, excluída a pimenta com que foi desastradamente temperado em sua primeira parte e os detalhes que a rodearam, foram as constantes e impressionantes quedas do goleiro Jefferson (nunca vi um sujeito cair tanto em campo, sentindo fortes dores mesmo quando nada o tocava, e que, pasme, subitamente sumiam) e os gols do CRB, chamados de detalhes pelo técnico azulino. É que o ex-treinador assim denomina o gol quando é realizado contra o time que comanda. Assim, o time (o CSA) é outro (melhor), desde quando o pegou pra treinar; jogou bem, e poderia ter tido outro resultado não fossem... dois detalhes: exatamente os dois gols sofridos. Ah, tá!

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domingo, 12 de abril de 2009

Ser imparcial. O que é?

Crônica
Segundo o Houaiss, diz-se do imparcial aquele “que se abstém de tomar partido ao julgar ou ao constituir-se em julgamento”. Ou, pelas palavras do saudoso conterrâneo Aurélio, aquele “que não sacrifica a sua opinião à própria conveniência, nem às de outrem”. Todos temos nossa história particular, nossas crenças, ideologias, preconceitos (infelizmente), paixões. Mas apesar disto muitas vezes somos obrigados, ou por força da atividade que se exerce (o juiz de direito, por exemplo), ou por um compromisso conosco mesmos, a buscar a imparcialidade quando tornamos pública nossa opinião sobre algo. Naturalmente, não é fácil. É tão difícil que tenho a nítida convicção de que você nunca alcança perfeitamente esse objetivo, jamais se despe inteiramente de tudo o quanto, durante a sua vida, foi forjando o seu caráter, construindo sua personalidade, alicerçando seus princípios, moldando suas paixões.

Na crônica esportiva — aqui o destaque é o futebol —, nessas circunstâncias em que se persegue a imparcialidade, normalmente um dos dois caminhos são seguidos: ou você esconde sua identidade sobre o time dono de sua torcida, o que implicará em fulminar de morte, em sua vida, a oportunidade de torcer aberta e publicamente por ele, ou, ao contrário, você não omite, antes até declara por “quem” seu coração bate mais forte. Há muito mais exemplos de quem adota a primeira opção. E a razão é simples e, naturalmente, compreensível: é infinitamente mais fácil opinar favoravelmente sobre o seu (misterioso) time do coração, ou desfavoravelmente sobre o principal rival deste, sem parecer que se está sendo parcial, vale dizer, que se esteja permitindo que a paixão norteie o rumo adotado por sua opinião.

Opto, entretanto, pelo segundo caminho, e aqui não remanesce a mais mínima crítica aos que pensam e optam diferentemente, e também não há qualquer ineditismo nisso. Exemplos de peso existem na crônica esportiva nacional (Juca Kfouri, Fernando Calazans, etc.) e tupiniquim (o falecido radialista João Malta, que era, inclusive, Conselheiro do CRB), e, naturalmente, não estou a comparar minhas modestas crônicas a de qualquer um deles. Faço essa opção, primeiro, porque não abro mão de torcer, muito e abertamente, por meu único clube do coração (sequer tenho um segundo, para amenizar a falta que aquele poderia me causar); segundo, porque ao assim agir entendo estar sendo absolutamente honesto com o leitor, pois que lhe oportunizo o direito de melhor avaliar a minha opinião e sua eventual carga de (im)parcialidade, já que antecipadamente conhece minhas pessoais preferências enquanto torcedor. E a maior dificuldade nesse caminho reside, justamente, quando se há de manifestar uma opinião favorável ao seu time do coração, ou uma desfavorável ao principal rival. Particularmente é essa a circunstância que merece de mim os maiores cuidados, até para manter o respeito, primeiro, comigo mesmo, e depois com quem me honra com sua leitura.

A título de exemplo, se avalio que o CSA, na primeira parte do chamado “Clássico do spray de pimenta”, foi covarde e fujão — como recentemente o fiz na crônica “Bom também para o CRB” —, não poderia (como ensina o velho Aurélio) sacrificar a minha opinião à conveniência de quem com ela discorde, com receio de ferir-lhe as suscetibilidades. Passei uma semana para dizê-lo, exatamente porque tive o cuidado de avaliar o jogo e todas as suas circunstâncias com o máximo de responsabilidade, de modo a não me deixar impregnar pelas minhas preferências pessoais. Tampouco há desrespeito ao atribuir-lhe aqueles comportamentos. Não há adjetivos outros para quem se acovarda e foge, que não os de covarde e fujão. Paciência. Como defensor do futebol desta terra senti-me revoltado e envergonhado. Fosse o CRB, por razões óbvias, a revolta e a vergonha seriam quadruplicadas. No mínimo.

Como se vê, não é fácil ser (e parecer) imparcial quando a crítica contundente é endereçada ao time rival do seu clube do coração. Nem o é quando a exaltação do elogio vai para este. Paciência, de novo. São os ônus de quem opta por levar a “transparência” às últimas consequências. Ainda acho melhor assim.
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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bom também para o CRB


Crônica

Quem assistiu ao jogo de hoje no estádio Rei Pelé, contra o bom time do Santos, viu outro CSA, completamente diferente daquele time tecnicamente medíocre, apático, covarde e fujão que se viu no último e inconcluso Clássico das Multidões, muito bem denominado pelo cronista Antonio Correia, de “Clássico da Vergonha”. Aliás, esse foi o título que o respeitado jornalista atribuiu à melhor crônica escrita sobre aquele triste espetáculo, em que só um time jogou (o CRB). Esclareço, de logo, que medíocre, ali, acima, não está no sentido de mediano, não, mas no de ruim, mesmo; e inconcluso, o foi, por conduto e obra do próprio CSA e da truculenta e despreparada PM que contraditoriamente se fez presente, pasme, para manter a ordem(?).

Mas, como dizia no início, o CSA que hoje se viu foi outro. Jogou com raça, apresentou um futebol razoável, teve ousadia de partir pra cima do adversário — nada mais, nada menos, do que o poderoso Santos — e quase balançou as redes do Peixe em pelo menos duas ótimas oportunidades. No mais, seu ótimo goleiro livrou-o do dissabor de uma derrota, frente, inegavelmente, ao mais perigoso e superior ataque santista. Mas não fez vergonha a ninguém, muito menos a si mesmo. Saiu aplaudido, justamente.

E o que o CRB tem a ver com isto? Bem, o Galo é justamente o próximo adversário do Azulão, na derradeira parte do jogo inacabado de quinta-feira passada, no próximo sábado. E se para o time do Mutange o jogo de hoje serviu para levantar e dar uma recauchutada na sua então rebaixadíssima moral, para o CRB serviu de excelente alerta (e contenção de possível euforia), acerca do perigoso adversário que poderá encontrar pela frente, pondo-lhe novamente de olhos bem abertos e pés no chão, se não estavam. Quem merecer vencer, jogando(!), que vença. Melhor do que isso, só dois disso.

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A Assembleia fazendo escola

Crônica
Depois de duas alterações irregulares no regulamento do campeonato alagoano de futebol, pois que em escancarada afronta ao Estatuto do Torcedor, capitaneadas pela atual gestão da Federação Alagoana de Futebol e com o apoio manifesto da quase(?) totalidade dos clubes participantes, ocorridas respectivamente nos anos de 2008 e 2009, eis que agora o é novamente, mas ao menos para restaurar a legalidade perdida com a ilegal alteração última.

Até aí, nada demais; antes tarde do que nunca. Mais a mais, não bastasse a ilegalidade ao referido Estatuto, a medida, ao menos aquela relativa à obrigatoriedade da escalação, para cada jogo, de no mínimo quatro jogadores com idade de até 23 anos — a despeito da boa intenção que lhe era ínsita, considerando-se apenas um dos lados da moeda (o dos muito jovens) —, era maculada, entretanto, de provável inconstitucionalidade, exatamente porque prejudicava os mais velhos. Quanto à seguinte, francamente não via com bons olhos que uma das vagas à Copa do Brasil fosse destinada ao futebol amador. Afinal, “cada macaco no seu galho” ainda é um dito popular cheio de sabedoria.

O que me surpreende, mesmo, é a manobra lá havida, perpetrada pela atual gestão, autorizada pela Confederação Brasileira de Futebol — só podia vir de lá, mesmo(!) —, com o beneplácito subserviente, ou não, de quase todos os clubes alagoanos, de prorrogar o mandato de seu atual presidente para até o ano de 2014. Digo subserviente porque ouvi na rádio — salvo engano no Programa Cadeira Cativa da Rádio Jornal —, de um dirigente do CRB, que o clube teria apoiado a precoce “eleição” para não sofrer mais perseguições (ou coisa semelhante, a palavra não seria exatamente esta) por parte da atual gestão da Federação, o que é no mínimo(!) lamentável, além de equivocada estratégia de luta, pois que baixar a cabeça ao algoz nunca foi a melhor alternativa a quem se sente prejudicado.

Quanto à Assembleia fazendo escola, haverá um equívoco manifesto em se entendê-la sendo realizada na Federação Alagoana de Futebol. A escola está sendo feita é na CBF, mesmo, pois que veio de lá a esdrúxula eleição. A FAF, nessa história, não passa de aluno de aluno. Resta-me aplaudir a posição do Murici e do Corinthians Alagoano, quanto a este último ao menos pela coerência.
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* Escrito em 07/04/2009
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Ética e profissionalismo

Crônica
A primeira constatação, que, diga-se, não é nova: estou ficando (ou já estou) velho. É que sempre entendi que quando o discurso inicia com expressões do tipo “no meu tempo era assim...”, “sou do tempo em que...”, o autor, exatamente por não mais ser do tempo de então (é de outro tempo, como diz) está velho, ou ficando. Assim, como “no meu tempo” a palavra ética ainda tinha toda a pujança prática que lhe é, enquanto vocábulo, inerente; como “sou do tempo” em que exaltar-se e defender-se atitudes movidas por princípios éticos era algo que, antes de louvável, era comum, caiu-me a ficha. Aliás, “cair a ficha”, em pleno vigor dos “orelhões” acionados por cartão, dá bem a visão do que ressalto já em preâmbulo quanto ao meu estágio cronológico. E como não pretendo que minha modesta e apertadíssima síntese sobre o tema desborde para a crítica personalista — seja porque não sou divindade, tampouco juiz, menos ainda paladino da moral, antes sujeito inundado de imperfeições —, vou manter minhas divagações no campo da tese.

E, nesse campo — que por conveniência da crônica é um campo, inclusive, onde se pode jogar futebol —, minhas divagações teimam em vir sob a forma de indagações, de questionamentos, prenhe, portanto, de dúvidas. Mesmo que, na verdade, veja eu, mesmo já agora antes de findo o texto, que dúvidas em mim não há. Mas trago-as à luz, ainda assim, para que se as possa melhor enxergar, inclusive aqueles que talvez não a queiram ver.

É que sou (quase) do tempo (é, pelo “quase” vejo que nem estou tão velho assim) em que pessoas davam a própria vida pelo que entendiam ser o melhor para a coletividade, pelo bem comum. A própria vida! Sabe-se lá, hoje, o que é isso, mesmo? Sou do tempo em que o sujeito tinha orgulho de ser e de parecer honesto, de ser generoso (não-egoísta), de enfrentar as mais adversas situações, sob as mais difíceis circunstâncias, mesmo que para ao final apenas pudesse dizer — cheio de orgulho, amor próprio, auto-estima, altivez e coragem —, que lutou. Assim na vida, como no futebol. E os covardes — ah, os covardes! — tinham ao menos a imensa coragem de reconhecer tê-lo sido, conseguiam sentir o gosto saudável da lição do arrependimento. Isto importa, ainda hoje? O que se prefere, hoje: perder com honra, ou ganhar sem honra?

Aquele time lutou até o fim, dizia-se, então. Perdeu, como até parecia ocorreria — dada a desvantagem em que então se encontrava —, mas caiu de pé(!), com a dignidade (outra palavra que parece à beira da extinção) intacta, antes até fortalecida; ou, contra todas as expectativas, venceu, porque conseguiu transformar em força as adversidades, apenas pela união dos seus combatentes entregues à mesma batalha.

Esse também era um tempo, caros leitores, em que profissionalismo significava, “tão-só”, exercer com dignidade, competência, honestidade e fidelidade a profissão abraçada. E do mesmo modo que a remuneração, ao final do período trabalhado contratado, deveria representar a justa e equânime contrapartida pelo labor despendido, o profissionalismo seria, numa “palavra”, o exercício ético desse trabalho. Assim, a título de ilustração, algumas trocas de emprego por empresas concorrentes, apenas porque mais vantajosa financeiramente, sob certas circunstâncias seria para muitos considerada antes mercenarismo do que profissionalismo.

Entre nós, pois, e aí é minha a percepção, o norte moderno buscado hoje sob qualquer circunstância, com o uso de quaisquer armas (às favas a ética), é mesmo a vantagem a qualquer preço; e profissionalismo..., bem, este parece ter virado eufemismo para mercenarismo. E haja trabalho para passar a coisa antiga aos filhos...
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*Escrito em 06/04/2009
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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pera'í! E a física nessa história?

Crônica
Você, benevolentíssimo leitor ou leitora, dado que o assunto do momento é o rol de proibições da briosa (aqui, pelo menos, não há ironia) Polícia Militar de Alagoas, minudentemente preparado para o aguardadíssimo e perigosíssimo Clássico das Multidões, certamente está imaginando que vou me insurgir contra a proibição do ingresso no Trapichão de tambor, bumbo, zabumba, ganzá, tamborim, reco-reco, cuíca, violão, violino, flauta, harpa, bateria, guitarra, baixo, contrabaixo, cavaquinho, piano, pandeiro, órgão eletrônico, sanfona, ou qualquer outro instrumento musical que exista ou que se possa, ainda mesmo às vésperas da hora do jogo, inventar. Absolutamente, não! Tampouco com a manutenção da proibição de bandeiras investidas em mastros de bambus, mogno, cerejeira, compensado vagabundo, palha de coqueiro, rolete de cana, palito de picolé, madeira de lei, ou coisa que o valha. Também, não!

Acho, aliás, que será uma experiência interessantíssima, inclusive para que a gente possa dela se vangloriar frente a outras capitais do país onde as autoridades não têm com a população o mesmo cuidado que se vê aqui. Talvez acrescentaria, apenas, a proibição do uso de vestes ou de qualquer outro material que identificasse o clube do coração, para o qual você vai ao estádio torcer. Eu, digo logo, iria de preto. Estaria mais adequado ao clima que se pretende lá impor. Vou além: acho vermelho muito violento. Cor de sangue. Deve incitar a baderna, sem dúvida. Por isto mesmo, deixo, inclusive, ao Galo, a sugestão para que mude de cor. Quem sabe todo branco, como o Santos do Pelé que dá nome ao campo de guerra? O CSA, nesse particular, estaria a salvo, com o seu azul já naturalmente calmo e pacífico.

Entretanto, confesso que não entendi um detalhe. Mas desde logo já me penitencio e, consequentemente, absolvo, no mais íntimo âmago do meu ser, as autoridades responsáveis. Se não entendi, como de fato assim o foi, é porque não sou do ramo, não estudei as mais diversas teorias sobre segurança de massas (aglomerações populares) certamente existentes, jamais sentei meu traseiro nos bancos escolares de um curso desses, e as únicas massas que tento controlar, não raro sem sucesso, são meus três filhos quando estão juntos e sós há mais de 15 minutos. Portanto, longe de mim meter-me ao bam-bam-bam da prevenção de caos, ao “cão chupando manga”, ao leitor de disco, ou mesmo escalador de azulejo, quando o assunto é segurança de muita gente em algum espetáculo, e por aí vai. Mas a sensação que tenho é que esqueceram de Newton. E isto é que me preocupa.

É que nos bancos onde, aí sim, sentei algumas vezes meu traseiro, aprendi que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo.” Foi, foi Newton, mesmo. Lembrou bem você também. Então, se é assim ainda, como penso que é, como pode aquela distribuição de torcidas, sem que não tenham ferido de morte o já morto físico?

Vê, só. Acompanhe meu raciocínio. Tô já acabando. 1) Puseram à venda, segundo soube, mais de 12 mil ingressos. 2) À torcida do CSA, mandante desse jogo, reservaram as chamadas “grandes arquibancadas”. 3) À do CRB, teoricamente visitante, as pequenas arquibancadas atrás dos gols, onde não cabem mais que 2.000, 3.000 pessoas (também segundo soube; se errei, foi por pouco). 4) Não há pontos de venda específicos para torcedores de CSA, mandante, e CRB, visitante; assim, cada torcedor compra seu ingresso livre e indiscriminadamente, entre a totalidade daqueles postos à venda. Ora — e aí é o fecho do raciocínio —, se por acaso a torcida do CRB for ao estádio em número semelhante à do CSA, e Newton ainda estiver certo, onde vão caber seus torcedores? Como 4, 5, 6, 7 mil pessoas caberão onde só cabem 2, 3 mil. Será que isto não é perigosíssimo para a segurança da multidão? E se a maioria dos torcedores do CRB tiverem preferência pelo mesmo lado da arquibancada, que eventualmente esteja lotada, com farão para tentar entrar na outra, do outro lado do estádio?

Huumm... Ah! Entendi. Isto já é pra que muita gente que lembre de Newton, como eu, não vá, com medo da violência. Assim, com menos torcedores, diminui a probabilidade de que haja problemas mais graves. Vem cá..., vai passar na TV?
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