Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

domingo, 31 de maio de 2009

Exterminadores de times

Por Guilherme Scalzilli*

Parte da crônica esportiva decidiu que os campeonatos estaduais de futebol chegaram a um nível irremediável de indigência e previsibilidade, devendo ser extintos e substituídos por disputas mais amplas. Não surpreende que a medida seja defendida majoritariamente pela imprensa das capitais: apenas os clubes poderosos conheceriam benefícios, enquanto os interioranos cairiam no ostracismo das divisões inferiores.

É universalmente sabido que isso levaria, em pouco tempo, à extinção de dezenas de times sem recursos. As cidades menores sofreriam conseqüências negativas para o comércio e o emprego, perdendo ainda mais sua tão menosprezada identidade regional. Ao mesmo tempo, os clubes ricos ganhariam fortunas absorvendo diretamente os talentos originados nos rincões. Para dimensionar os valores envolvidos, basta fazer um levantamento dos jogadores mais badalados do país que foram revelados por times de menor expressão.

Mas apenas o aspecto financeiro não explica o apego à proposta malévola. A indisfarçável decadência técnica do futebol nacional nivelou os times negativamente, ameaçando a primazia dos chamados “grandes”. Se um rebaixamento no campeonato brasileiro soa-lhes constrangedor, semelhante fracasso em nível estadual pareceria desmoralizante, abalando certas ilusões de “grandeza” que a imprensa alimenta para valorizar-se a reboque de seus preferidos.

É essa mitologia da superioridade imanente que disfarça a cadeia de artimanhas viciadas dos gabinetes futebolísticos. O poder dos clubes privilegiados advém de uma popularidade construída com títulos que foram possíveis graças à generosidade dos contratos publicitários e de transmissão televisiva, além dos infames sistemas de repasses desiguais de verbas por parte da CBF. Para completar o cartel, resta apenas eliminar a indesejável concorrência.
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www.guilhermescalzilli.blogspot.com

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Abra o olho, CRB!


Crônica
Campeonato Alagoano/2009. O CRB, dando continuidade à valorização dos atletas formados no clube, iniciada ao final da frustrada campanha no Brasileiro da Série B, e com o respaldo da torcida, inicia a disputa do certame estadual. Vencidas as primeiras (e muitas) dificuldades, termina o 1° turno com apenas 11 pontos. À sua frente, no seu grupo (B) — o mais forte do campeonato —, o Murici, com 13 pontos (dois a mais) e o ASA, com 18 (sete a mais). Comparativamente ao Grupo A, o CRB teve o mesmo número de pontos do 2° lugar, mas com uma vitória a mais. Mesmo assim, não se classificou.

2° Turno: O CRB, demonstrando notória evolução, comparativamente ao futebol apresentado no 1° Turno, soma 19 pontos, mesmo número de pontos do ASA (2° do seu grupo), mas com menor saldo de gols. Assim, passam para a fase semifinal, o Corinthians (20 pontos) e o Coruripe (12 pontos), pelo Grupo A, este último com 7 pontos a menos do que o Galo; e o Igaci (22 pontos) e o ASA (19 pontos), pelo “B”, do CRB.

Portanto, enquanto disputaram o mesmo número de partidas — na fase classificatória — o ASA, ao final campeão alagoano, conquistou 37 pontos; o CRB, 30 pontos. Diferença de 7 pontos, ou 2 vitórias e 1 empate, em 18 jogos. Como o ASA passou para as fases seguintes, tanto no 1°, como no 2° Turno (o que não ocorreu com o CRB, que não se classificou em qualquer deles), conquistou mais 14 pontos, totalizando 51. Mesmo assim, isto é, mesmo não passando para a fase seguinte em nenhum dos turnos, o CRB termina a disputa em 3° lugar na classificação geral, atrás apenas de ASA e Corinthians Alagoano, e à frente, cabe destacar, de Murici e Ipanema — que se classificaram à semifinal do 1° turno — e de Coruripe e Igaci — que se classificaram à semifinal do 2° turno —, portanto tiveram mais pontos a disputar do que o Galo —, além dos demais.

Apesar do desfecho pobre, considerando-se a tradição do Regatas, não se pode afirmar que foi uma campanha desastrosa, ou que fez vergonha, porque não se pode fechar os olhos às circunstâncias difíceis que vem, corajosa, organizada e competentemente enfrentando. Tampouco se pode negar, principalmente, que viesse apresentando um futebol desagradável aos olhos da torcida e da diretoria.

Pois bem, esse breve retrospecto é para melhor dar sustentação ao que vejo, com assombro, implantando-se, agora, na Pajuçara. Começo estranhando que, para justificar a vinda de mais de meio time do Ferroviário do Ceará, tenha o treinador recém contratado afirmado que o CRB era deles precisado, já que o plantel que dispunha no Alagoano não conseguiu sequer se classificar para as fases seguintes, no 1° e no 2° turno. Portanto, como “para bom entendedor meias palavras bastam”, compreendi que afirmara ser o CRB um time ruim, sofrível, incompetente. Logo, reforços daquele nível seriam necessários, já que trariam qualidade ao Regatas.

Passados alguns dias, volto a ouvi-lo tecendo críticas ao time do Alagoano, enquanto enaltecia os jogadores trazidos, o time de onde vieram e a campanha realizada no campeonato cearense, onde lograram um 3° lugar. Aí, estranhei de novo. Mas o CRB não foi, também, o 3° colocado no nosso campeonato? O CRB não vinha apresentando um futebol razoável, chegando mesmo a agradar aos olhos de sua exigente(íssima) torcida? Meu estranhamento só aumentou quando o ouvi comparar a pontuação geral do ASA (51) com a conquistada pelo Galo (30). Foi taxativo, do alto de sua experiência: “contra números não há argumentos!” Quase me convenci... Mas o diabo é que lembrei (oh!, memória, por que não falhaste?) que os 51 pontos do ASA foram conquistados somando-se o da fase classificatória (em que ambos participaram) com aqueles ganhos nas semifinais e finais disputadas pelo alvinegro (nestas, sem a participação do CRB). Olhada aquela, a diferença é de 7 pontos, sendo importante repetir-se que no 2° turno o CRB igualou o número de pontos ganhos pelo ASA, campeão alagoano.

Ora, essa me parece a interpretação correta, tomando-se a análise que estava sendo feita. Fosse tão deplorável, assim, o CRB não estaria com o mesmo número de pontos do campeão alagoano (19), antes de iniciadas as fases seguintes. Mas ainda assim, mesmo não passando para as semifinais e finais em ambos os turnos, ainda termina em 3° lugar no cômputo geral. Pôxa, volto a indagar: não foi tão ruim assim, ou foi? E quando a gente se lembra que o Ferroviário, esse celeiro de jogadores tão imprescindíveis ao CRB, também conquistou um 3° lugar lá, no seu campeonato? Eu estranho. Não vou negar.

Minha estranheza ancorou, finalmente, na observação do clima de discórdia, confusão, indisciplina e desunião que se alojou na Pajuçara. Primeiro, sai, brigado, o centroavante e artilheiro do clube, até então elogiado por todos (torcida, diretoria e imprensa). Depois, chegam alguns à concentração após o horário marcado, um deles embriagado. Todos queridos pela torcida e pela diretoria, até então. Outro, vindo do arquirrival com fama de barqueiro, teve um comportamento exemplar, elogiadíssimo pela torcida e pela diretoria. Agora, são um bando de baderneiros indisciplinados. Por quê? O que está havendo na Pajuçara? Por que lá se instalou esse clima nada agradável? Perdemos o artilheiro, perdemos o ala esquerdo(?), perdemos o meio-campista de qualidade incontestável(?).

Pra piorar (seria conseqüência?), jogamos mal contra o Salgueiro/PE — com todo o respeito, saca o time que jogou melhor do que o Galo(!) —, perdemos, e poderíamos ter perdido de mais. O que está acontecendo, CRB? Abra o olho, companheiro! A Série D é logo ali.
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Foto, em http://niilismo.net/
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Quem é o legítimo campeão?

Crônica
Oxe, o ASA!
O ASA conquistou o Campeonato Alagoano de futebol, incontestavelmente.
O ASA venceu o 1° turno.
O ASA sagrou-se campeão antecipadamente, por vencer também o 2° turno.
O ASA não fez um time de loucos irresponsáveis, por loucos (mas nem tanto) e incompetentes; não contratou jogadores caros e desmotivados; não saiu mudando de técnico como quem troca de roupa.
O ASA organizou-se, estruturou-se, planejou-se.
O ASA não teve falsos salvadores da pátria (sorte de seus torcedores!).
O ASA, amanhã, continuará sendo o ASA, e não um arremedo do time campeão, ou até menos que isso.
O ASA conquistou um título com sustança! Não é campeão artificial.
O ASA foi competente durante a etapa de pontos corridos, e foi competente na fase seguinte, onde não basta a regularidade daquela, mas também a cara e o trejeito de campeão, para disputar finais e não tremer, como só os campeões conseguem.
O ASA foi o ASA! O ASA de Arapiraca! Da terra do fumo, sim, sinhô! A força maior do interior do estado! A força maior, hoje, de todo o estado!
Salve o ASA de Arapiraca! Alagoas, hoje, é preta e branca. Fazer o que, alvirrubros e azulinos? Reconhecer, ora!
E oxalá se liberte dessa coisa de MENGASA!... Quem precisa de Flamengo quando se é ASA?
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*Foto: Valderi Melo (Cada Minuto)
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sábado, 9 de maio de 2009

Pontos nos "is"

Crônica
Só alguns pontos, que teimaram, teimaram, e surpreendentemente não foram postos nos seus respectivos “is”. Antes deles foram tirados.

Primeiro: parte considerável da imprensa falada, ora nas entrelinhas (sob a roupagem da mera conjectura factual), ora descambando para cima das linhas mesmo, parecia torcer para que o CSA vencesse o clássico e, assim, escapasse do rebaixamento, ou até se classificasse. Aquilo que foi timidamente ventilado antes do jogo em que o Azulão desbancou o Santos, o foi mais afoitamente após, até à beira da euforia depois da vitória sobre o Murici.

Não venceu. Perdeu e, por isto, foi rebaixado. Mas o discurso é que o CSA é que teria rebaixado a si mesmo. Por sua incompetência dentro e fora das quatro linhas. O CRB? Mero coadjuvante nesse triste infortúnio. Não é verdade. Claro que o CSA foi incompetente, mas quem o rebaixou foi o CRB. Não fosse o Galo ter vencido, estaria o CSA, vencendo, classificado, graças ao Coruripe. Portanto, esse é um ponto que não foi posto em seu verdadeiro “i”.

O segundo ponto: criticou-se o CSA, pelo rebaixamento, mas tentou-se pôr o CRB, por não ter obtido a classificação, senão na mesma panela, ao menos num papeiro semelhante. Os dois teriam sido péssimos. Um, pelo rebaixamento; o outro, porque venceu pra nada, já que não se classificou. Enfim, os dois fora do quadrangular. Mesmo barco. O raciocínio, entretanto, é inconsistente.

Efetivamente, o CRB está longe do clube cujo passado o honra. Mas querer colocar as duas campanhas — de CSA e CRB — quase no mesmo saco é de um equívoco tão grande quanto inacreditável e injusto. Veja-se, em síntese.

O CRB vem tentando, já desde Wilton Figueiroa (quando este assumiu só havia um jogador na Pajuçara), soerguer-se com sustentabilidade. A partir do José Serafim e sua equipe, ultrapassados tropeços iniciais, os passos tornaram-se mais firmes e com resultados mais concretos. Hoje, indiscutivelmente, o CRB é outro. Dentro e fora de campo. Seu time, modesto embora, e guardadas as circunstâncias de seu estado anterior, realizou uma boa campanha, sim! Tanto que só não logrou o primeiro êxito (a classificação) porque o grupo de onde saíram os outros dois times teve um desempenho técnico escancaradamente ruim. Basta ver-se que o Coruripe classificou-se com 12 pontos, enquanto o CRB não o conseguiu com 19, mesmo número de pontos, aliás, do (elogiado) ASA, campeão do 1° turno (à frente do Galo apenas no saldo de gols). Mais: o CRB termina a sua participação no 3° lugar na contagem geral de pontos do campeonato.

Portanto, e ainda que em rapidíssimas observações, é facílimo perceber-se que o CRB não fez vergonha a sua apaixonada torcida, é perceptível que está no caminho certo, e é justo que seja reconhecido como tal. Modesto, sim. Longe, ainda, do que já foi, sim. Mas sério, organizando-se, e com os pés bem postos no chão.
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*Escrito em 07/05/2009
*Também postado nos sites Futebolalagoano.com e FutNet

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nem só por títulos cresce uma torcida

Crônica
O CRB é um perfeito exemplo. Desde 1990, apenas quatro títulos (92, 93, 95 e 2002). Razões? A principal: não raro os dirigentes que por lá passaram não priorizaram a disputa regional, mas o Brasileiro da Série B. Sua torcida, porém, cresceu avassaladoramente.

Portanto, já afirmo: nem só de títulos vive (e cresce) uma torcida. Isto é a propósito do mando de campo do CRB neste domingo, contra o CSA, e a consequente ocupação — inédita no clássico e, portanto, histórica — das chamadas “grandes arquibancadas” por seus torcedores.

Desde os anos 1970, as torcidas de CSA e CRB ficaram assim distribuídas em dia de clássico: nas GA, a do Azulão; nos grandes e pequenos “poleiros” — as arquibancadas ao lado das cadeiras até àquelas situadas atrás dos gols (estas últimas, área mista) —, a do Galo. A razão, abstraindo a política (dizem), o tamanho. À maior, as GA. À menor, os “poleiros”.

Domingo, entretanto, o próximo Clássico das Multidões, com a referida e inédita ocupação das GA, vai marcar na sua história o que se vem consolidando ao longo dos últimos vinte anos: o impressionante crescimento da torcida alvirrubra. Com efeito, tão exagerado que até se discute se já não seria a maior do estado. Argumentos não faltariam. Dois exemplos: o Trapichão várias vezes completamente lotado de regatianos nos últimos anos, em jogos de uma só torcida, além de uma pesquisa recentemente realizada pelo respeitado Data Folha, que atestava sua supremacia.

Bem, à míngua de títulos, esse incontestável crescimento, penso, deveu-se, principalmente, à ininterrupta atividade durante aqueles quinze anos de Série B (1993 a 2008), aliada ao insucesso do seu principal rival nos regionais, inclusive ao rebaixamento deste à 2ª divisão do alagoano, onde passou dois anos (2004/2005).

É verdade. Se nunca venceu a Série B, também é certo que nunca havia deixado de disputá-la. Se lá sua melhor colocação foi um 5° lugar em 1997, é certo que o torcedor do CRB viveu ali inúmeras alegrias. Se tem menos títulos que o CSA, é fato também que tem mais vitórias do que o rival nos confrontos diretos. Numa palavra, emoção. E emoção de felicidade não há só em conquista de título. Há, também, e não raro com mais frequência, em estar em atividade. Ou por outra: com jogos para jogar, partidas a disputar, e até permanência a alcançar. E, a cada trunfo, comemorar. Numa palavra (ou duas): estar vivo.
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*Escrito em 1°/05/2009
*Tb postado nos sites Futebolalagoano.com e FutNet