O
ano era o de 2006. Mero exemplo. Minto; não tão trivial assim. Aquele ano — ao
contrário do que disse quando mal comecei a crônica —, é pra mim emblemático.
Significativo não apenas pelas imensas emoções vividas — de alegrias, muitas
tristezas, e uma felicidade imorredoura ao fim —, mas principalmente por uma
característica que via na equipe daquela temporada de Série B, com muito poucas
semelhanças ao que observo na de agora, tomado o elenco atual do Galo em seu
todo.
Mero
exemplo, quis dizer, porque haveria inúmeros outros a pincelar da incrível
história do clube, para trazer aqui. Mas o de 2006, por ainda estar mais fresco
na memória de muitos, talvez surta melhor resultado ao fim comparativo que
pretendo demonstrar a vocês, poucos, mas valorosos leitores que aqui me honram.
As
emoções, Jesus!, foram de deixar tonto qualquer torcedor. Houve quem, talvez de
coração mais fragilizado, fosse socorrido às pressas, ou mesmo tivesse dado
definitivo adeus ao Galo num daqueles jogos eriça-pelos. Não havíamos vencido
uma competição; nada. Simplesmente, a partir de certo momento da disputa,
passamos a lutar para não cair à Série C.
Naquela
temporada, percebi um fenômeno que quase se repetia invariavelmente. O CRB, destemidamente,
enfrentava com garra e técnica seus adversários. Posso dizer que na imensa
maioria das vezes dava gosto ver o Galo em campo. Altivo, afoito, corajoso, e
às vezes até brilhante. Sabe os argonautas do nosso belo hino? Pois é, parecia.
Próximo ao final do jogo, entretanto, por um descuido qualquer, cedia o empate
ou mesmo sofria a derrota imerecida.
Era
como se o time, apesar dessas qualidades, não se sentisse capaz, e deixasse que
o resultado escapasse de seus pés, quase inexplicavelmente. Foi quando, já
faltando dois jogos decisivos, um em Santa Catarina e o último em Maceió, cujos
resultados selariam a sorte do Regatas, deu-me o feliz desatino de levar uma
psicóloga ao clube: a querida, competente e corajosa Dra. Helena. Mas isto é
outra história.
O
fato é que vencemos os dois jogos, com a inestimável ajuda daquela profissional,
e permanecemos na Série B. Uma alegria que parecia jamais acabaria inundou
nossa alma e coração; uma alegria espelhada pelos milhares de regatianos que
acorriam ao Trapichão e o pintavam de vermelho e branco em quase todos os jogos
disputados.
Então,
indago-me cá com minhas virgens, porque nunca usadas, abotoaduras, jogadas
intactas e quase esquecidas num canto qualquer do armário: considerando-se,
principalmente, o festejado e alardeado melhor elenco de hoje (e o é, não sei
se melhor time), por que afinal a torcida tem comparecido apenas
parcimoniosamente? Seriam várias as razões? E, por outra: a torcida deve ser
atacada pela direção do clube, ao argumento de que esta estaria fazendo a sua
parte (contratara um bom elenco, ascendera à Série B, conquistara o título
alagoano), ao passo que a torcida, tida hoje como a maior do estado, ao
produzir rendas pífias para um clube do tamanho do CRB, deveria ser alvo de
justas cobranças irresignadas?
Bem,
em primeiro lugar, penso que são várias as razões, se não a justificar, ao
menos a explicar a baixa média de público presente aos jogos do Galo. Considero
até mesmo o fato de que o torcedor regatiano tornou-se um torcedor exigente;
sonha com voos mais altos, necessitando manter-se sonhando por mais tempo, se não
puder, em pouco tempo, ser acordado com o sonho concretizado.
Mas
penso que a transmissão dos jogos em casa pela TV é fator por demais importante
para o fenômeno, juntamente com a lei seca dos estádios e a invencível (parece)
falta de estrutura do Trapichão. Talvez a crise por que o país venha passando,
embora certamente menor do que alardeado pela mídia grande por interesses
político-eleitoreiros, também contribua para tanto, notadamente, claro, nas
classes mais modestas. Considero, assim, que esses motivos — deles, aliás, o
CRB não é o único clube vitimado no país — são três ou quatro potentes socos
desferidos na pretensão do torcedor que quer ir ao estádio ver seu clube do
coração jogar. Por ver jogar, entenda-se: torcer, aplaudir, jogar junto,
prestigiar e, principalmente, sentir orgulho do desempenho do time, ainda que
este eventualmente não alcance a vitória.
E
aí reside, pra mim, a mais importante das causas: o CRB, certamente, e
contraditoriamente, já desde quando disputou o Campeonato Alagoano 2015, vem se
mostrando um time medroso e retranqueiro. Por isto mesmo, não empolga o seu
torcedor, não o estimula a vencer todos os senões, todas as dificuldades, todas
as razões que o impelem a permanecer no conforto do seu lar, ou num bar onde
possa, no mínimo, desfrutar de uma cerveja gelada. E observe-se que estou me
referindo ao campeão alagoano da temporada e um dos melhores elencos formados
para a disputa do campeonato brasileiro da série B. Aquele mesmo que, tendo
acabado de se sagrar campeão, foi surpreendentemente criticado por seu
comportamento covarde frente ao Coruripe, por um dos principais homens do rádio
alagoano, Walmari Vilela, o que gerou em mim, então, registro, na qualidade de
torcedor e ouvinte da sua resenha, proporcional irresignação com as críticas
desferidas ao time, porque atrevidamente as entendia, como com o mesmo
atrevimento ainda entendo, inoportunas, embora pra lá de procedentes.
Nesse
sentido, o CRB de hoje, arrisco afirmar, guardadas as ponderações e
justificativas já explicitadas, é pior do que aquele que disputou a Série B de
2006, referido no início da crônica. Por uma simples razão: não consegue fazer
genuinamente feliz o seu torcedor, priva-o do orgulho, da empolgação, até da
tristeza que se renova em força para gritar seu nome no jogo seguinte. Para se
ver que, parafraseando conhecido ditado popular, não basta ser melhor, tem que
jogar como se fosse. E isto significa jogar com destemor, com brio, com
técnica, mas também com raça, sem covardia, sem receio de vencer, tampouco de
golear, sem medo de ser feliz. Jogar, claro, sem o ímpeto suicida, mas tampouco
com a falta de ambição movida pela acomodação preguiçosa e desconfiada de suas
próprias qualidades.
Finalmente,
respondendo a última de minhas próprias perguntas, a torcida, por mais valoroso
que seja o desempenho da atual direção, capitaneada por seu presidente — e o é,
sem a menor dúvida! —, não pode ser alvo de qualquer frustração, nem quando justa.
Se a torcida vem frustrando a direção pela renda insatisfatória que vem
proporcionando, inclusive considerado o sócio torcedor, certamente há razões
para tanto. A torcida de um clube é o próprio clube, que sem ela não existiria
como tal. O comparecimento indigesto é consequência, não causa. O protesto
silencioso do torcedor é fenômeno a ser compreendido, para ser revertido, não
atacado. Por uma razão tão simples quanto avassaladora: carão não leva torcedor
algum a estádio algum. É inócuo.
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