Recado aos alagoanos

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terça-feira, 25 de agosto de 2015

A frustrante participação da torcida: por quê?*

*Simultaneamente postada no sítio CRB Acima de Tudo

O ano era o de 2006. Mero exemplo. Minto; não tão trivial assim. Aquele ano — ao contrário do que disse quando mal comecei a crônica —, é pra mim emblemático. Significativo não apenas pelas imensas emoções vividas — de alegrias, muitas tristezas, e uma felicidade imorredoura ao fim —, mas principalmente por uma característica que via na equipe daquela temporada de Série B, com muito poucas semelhanças ao que observo na de agora, tomado o elenco atual do Galo em seu todo.

Mero exemplo, quis dizer, porque haveria inúmeros outros a pincelar da incrível história do clube, para trazer aqui. Mas o de 2006, por ainda estar mais fresco na memória de muitos, talvez surta melhor resultado ao fim comparativo que pretendo demonstrar a vocês, poucos, mas valorosos leitores que aqui me honram.

As emoções, Jesus!, foram de deixar tonto qualquer torcedor. Houve quem, talvez de coração mais fragilizado, fosse socorrido às pressas, ou mesmo tivesse dado definitivo adeus ao Galo num daqueles jogos eriça-pelos. Não havíamos vencido uma competição; nada. Simplesmente, a partir de certo momento da disputa, passamos a lutar para não cair à Série C.

Naquela temporada, percebi um fenômeno que quase se repetia invariavelmente. O CRB, destemidamente, enfrentava com garra e técnica seus adversários. Posso dizer que na imensa maioria das vezes dava gosto ver o Galo em campo. Altivo, afoito, corajoso, e às vezes até brilhante. Sabe os argonautas do nosso belo hino? Pois é, parecia. Próximo ao final do jogo, entretanto, por um descuido qualquer, cedia o empate ou mesmo sofria a derrota imerecida.


Era como se o time, apesar dessas qualidades, não se sentisse capaz, e deixasse que o resultado escapasse de seus pés, quase inexplicavelmente. Foi quando, já faltando dois jogos decisivos, um em Santa Catarina e o último em Maceió, cujos resultados selariam a sorte do Regatas, deu-me o feliz desatino de levar uma psicóloga ao clube: a querida, competente e corajosa Dra. Helena. Mas isto é outra história.

O fato é que vencemos os dois jogos, com a inestimável ajuda daquela profissional, e permanecemos na Série B. Uma alegria que parecia jamais acabaria inundou nossa alma e coração; uma alegria espelhada pelos milhares de regatianos que acorriam ao Trapichão e o pintavam de vermelho e branco em quase todos os jogos disputados.

Então, indago-me cá com minhas virgens, porque nunca usadas, abotoaduras, jogadas intactas e quase esquecidas num canto qualquer do armário: considerando-se, principalmente, o festejado e alardeado melhor elenco de hoje (e o é, não sei se melhor time), por que afinal a torcida tem comparecido apenas parcimoniosamente? Seriam várias as razões? E, por outra: a torcida deve ser atacada pela direção do clube, ao argumento de que esta estaria fazendo a sua parte (contratara um bom elenco, ascendera à Série B, conquistara o título alagoano), ao passo que a torcida, tida hoje como a maior do estado, ao produzir rendas pífias para um clube do tamanho do CRB, deveria ser alvo de justas cobranças irresignadas?

Bem, em primeiro lugar, penso que são várias as razões, se não a justificar, ao menos a explicar a baixa média de público presente aos jogos do Galo. Considero até mesmo o fato de que o torcedor regatiano tornou-se um torcedor exigente; sonha com voos mais altos, necessitando manter-se sonhando por mais tempo, se não puder, em pouco tempo, ser acordado com o sonho concretizado.

Mas penso que a transmissão dos jogos em casa pela TV é fator por demais importante para o fenômeno, juntamente com a lei seca dos estádios e a invencível (parece) falta de estrutura do Trapichão. Talvez a crise por que o país venha passando, embora certamente menor do que alardeado pela mídia grande por interesses político-eleitoreiros, também contribua para tanto, notadamente, claro, nas classes mais modestas. Considero, assim, que esses motivos — deles, aliás, o CRB não é o único clube vitimado no país — são três ou quatro potentes socos desferidos na pretensão do torcedor que quer ir ao estádio ver seu clube do coração jogar. Por ver jogar, entenda-se: torcer, aplaudir, jogar junto, prestigiar e, principalmente, sentir orgulho do desempenho do time, ainda que este eventualmente não alcance a vitória.

E aí reside, pra mim, a mais importante das causas: o CRB, certamente, e contraditoriamente, já desde quando disputou o Campeonato Alagoano 2015, vem se mostrando um time medroso e retranqueiro. Por isto mesmo, não empolga o seu torcedor, não o estimula a vencer todos os senões, todas as dificuldades, todas as razões que o impelem a permanecer no conforto do seu lar, ou num bar onde possa, no mínimo, desfrutar de uma cerveja gelada. E observe-se que estou me referindo ao campeão alagoano da temporada e um dos melhores elencos formados para a disputa do campeonato brasileiro da série B. Aquele mesmo que, tendo acabado de se sagrar campeão, foi surpreendentemente criticado por seu comportamento covarde frente ao Coruripe, por um dos principais homens do rádio alagoano, Walmari Vilela, o que gerou em mim, então, registro, na qualidade de torcedor e ouvinte da sua resenha, proporcional irresignação com as críticas desferidas ao time, porque atrevidamente as entendia, como com o mesmo atrevimento ainda entendo, inoportunas, embora pra lá de procedentes.

Nesse sentido, o CRB de hoje, arrisco afirmar, guardadas as ponderações e justificativas já explicitadas, é pior do que aquele que disputou a Série B de 2006, referido no início da crônica. Por uma simples razão: não consegue fazer genuinamente feliz o seu torcedor, priva-o do orgulho, da empolgação, até da tristeza que se renova em força para gritar seu nome no jogo seguinte. Para se ver que, parafraseando conhecido ditado popular, não basta ser melhor, tem que jogar como se fosse. E isto significa jogar com destemor, com brio, com técnica, mas também com raça, sem covardia, sem receio de vencer, tampouco de golear, sem medo de ser feliz. Jogar, claro, sem o ímpeto suicida, mas tampouco com a falta de ambição movida pela acomodação preguiçosa e desconfiada de suas próprias qualidades.


Finalmente, respondendo a última de minhas próprias perguntas, a torcida, por mais valoroso que seja o desempenho da atual direção, capitaneada por seu presidente — e o é, sem a menor dúvida! —, não pode ser alvo de qualquer frustração, nem quando justa. Se a torcida vem frustrando a direção pela renda insatisfatória que vem proporcionando, inclusive considerado o sócio torcedor, certamente há razões para tanto. A torcida de um clube é o próprio clube, que sem ela não existiria como tal. O comparecimento indigesto é consequência, não causa. O protesto silencioso do torcedor é fenômeno a ser compreendido, para ser revertido, não atacado. Por uma razão tão simples quanto avassaladora: carão não leva torcedor algum a estádio algum. É inócuo.

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