Foram tantos artigos, crônicas,
reportagens, mesas-redondas (ou seriam quadradas?) sobre o desempenho da
seleção brasileira na Copa do Mundo, que me furtei em escrever mais alguma palavra
acerca do já enfadonho tema, que, aliás, em matéria de enfadonho só perde para
a própria. Mas há dois pontos sobre os quais não consegui silenciar, como disto
é prova este artigo.
O primeiro é um pedido formal de desculpas. É, de desculpas, mesmo. À Seleção.
Claro que não a esta, que, ao contrário, é devedora de muitas, muitas
desculpas. Mas à de 1982, que num arroubo de otimismo com a de 2006, ousei com
aquela comparar, em artigo anterior. Escrevia, então, do meu receio de que o
favoritismo da seleção atual pudesse nos causar decepção semelhante com a
vivida na Copa de 1982, no fatídico jogo contra a Itália. Craques lá, craques
aqui. Favoritismo, lá, maior aqui. Mas havia uma diferença crucial, que, então,
me fugiu. Lá havia um time. E um técnico. Aqui, nem uma coisa. Nem outra.
Portanto, desculpas a Zico, Sócrates, Falcão, Cerezzo, Júnior... Desculpas ao
saudoso Telê. Foi infeliz, reconheço, a referência.
O segundo é uma dúvida que me assola, após examinar — apenas como torcedor — o
vergonhoso desempenho dos nossos maiores jogadores, a par com os dos escretes
alienígenas. A comparação cingiu-se àqueles que, além de craques, fossem
milionários. E, nesse sentido, observei que os únicos que não jogaram foram os
da seleção brasileira. Quando digo “jogaram”, não estou me referindo a fazê-lo
com beleza, arte, eficiência. Falo de alma, vontade, raça, brio. Honra! Eles
simplesmente não jogaram. Pareciam tolos embasbacados e cínicos, a tripudiar
dos patrícios que torciam e choravam. E é o que foram, com honrosas exceções.
Li que estavam deslumbrados com sua vida de milionários e vencedores. Já haviam
alcançado a glória. Reconhecimento, bajulação, mulheres, dinheiro, fama. Essa
seria a razão principal. Sua condição de craques, vencedores na profissão e,
economicamente falando, na vida, os desmotivara. Mas a pergunta que não me quer
calar: por que o mesmo não se deu com os craques-milionários das outras
seleções? Afinal, não o são, também? Por que só com os nossos? Lembre-se do
jogo, dos cumprimentos antes e após o jogo, das iluminadas entrevistas. Empáfia
e cinismo. Patético. Lembre-se. Ora, por que os outros, os alienígenas, suaram
a camisa, honraram seu país e as cores que defendiam? Alguns chegando até às
vias de fato, como nossos eternos rivais do Sul e o tal do francês, exímio
cabeceador. Ao final de uma derrota, por exemplo, o que se via em seus rostos
que não o cansaço da luta lutada até o final, a expressão da decepção, do
choro, da revolta? E não são, também, ricos, famosos, craques, cobiçados por
mulheres?
Por que só os nossos? Seria o deslumbramento uma característica mais nossa do
que dos demais? Seriam, os nossos craques-milionários, os deslumbrados-mor?
Seria a seleção, como se diz do Congresso, um nosso retrato?
Cuidado! Olhe o flash! Os paparazzi chegaram.
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Escrito em julho/2006
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com)
Foto em http://esporte.uol.com.br/
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