Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

domingo, 28 de junho de 2009

Cabeças-duras


Crônica
Como já disse em outra crônica, tempos atrás, e mais ou menos reproduzo agora, não sou psicólogo. Mas isto não me impede de constatar sua importância fundamental para o esporte, notadamente, para o futebol. Aliás, vivenciei experiência prática extraordinária nessa seara. Foi durante os últimos jogos do Campeonato Brasileiro da Série B/2006, cuja história rendeu até um conto, “Uma inesquecível história de amor, garra e fé”, postado inicialmente aqui, e depois, onde ainda está, no desativado BOLAGOANA (http://bolagoana.blogspot.com), além de no sítio oficial do CRB (http://www.crbalagoas.com.br). Narra a passagem fundamental, emocionante e inesquecível da psicóloga Dra. Helena Soares pelo CRB, a este levada, com muito orgulho e alegria, por mim e um grupo de abnegados amigos alvirrubros.

Pois bem, nomes respeitados apontam a importância do psicólogo para o futebol, do que é exemplo o de Regina Brandão(*), para quem “um atleta sem uma preparação psicológica adequada que lhe permita desempenhar-se bem sob pressão, competir com dor, concentrar-se, manter o foco, ter sentimentos positivos e participar das competições sentindo-se confiante e tranqüilo, terá poucas chances de alcançar uma boa atuação. Isto porque, no alto nível, as habilidades esportivas de diferentes esportistas se igualam. Portanto, precisam mais do que um alto nível de treinamentos físicos, técnicos e táticos, eles precisam estar bem preparados psicologicamente. Assim, aos atletas são necessários três requerimentos básicos para a excelência no esporte: talento, treinamento intenso e ‘cabeça’ (ORLICK, 1986).”

O respeitado Paulo Ribeiro(**), por sua vez, perguntado sobre a importância da psicologia no desempenho do jogador de futebol, assim dispôs: “Depende de que categoria falamos. Se pela formação, a base, a psicologia entra como fator fundamental juntamente com o Serviço Social, pois funciona como alicerce da estrutura emocional de um garoto que inicia sua prática esportiva e precisa conhecer seu corpo, suas possibilidades, limites e frustrações. Portanto, nesse caso, a Psicologia entra como processo intrínseco à formação do atleta. Já no esporte de alto rendimento, equipe profissional, a Psicologia entra como grande aliada na melhora da performance individual e de grupo. Lida com os mais diversos sentimentos que apontam um grupo de pessoas reunidas, ou seja, trabalha com as vaidades individuais, com as dificuldades de relacionamento e suas variantes. Trabalha com dinâmicas de grupo, trabalhos motivacionais, testes de ansiedade e atenção concentrada e também na elaboração do perfil do atleta para que treinador e auxiliares possam entrar mais a fundo no âmbito da personalidade de seu jogador. Não da para discorrer sobre todos os aspectos numa breve entrevista."

Não por outra, o célebre jornalista e escritor Armando Nogueira tenha asseverado, com todas as letras: “Queiram ou não queiram os doutores do futebol, jogar bem ou jogar mal será sempre reflexo do estado mental em que se encontre uma equipe. Não só de pernas vive um grande time."(***)

Da minha parte, modestamente tenho tentado, desde 2007, alertar para a importância de dotar-se o clube de um profissional psicólogo. Sem sucesso. Ora a desculpa dos cartolas de plantão é a falta de verba, ora é a discordância do treinador — que não raro teme venha aquele diminuir as luzes dos holofotes sobre si e seu trabalho.

Pois bem, estão hoje os jogadores do CRB sob enorme pressão psicológica. Têm de vencer, se quiserem continuar lutando pela classificação; pior, para ao menos sair da incômoda posição que ocupa na tabela: a lanterna. Não há um só dia que não lhes seja lembrado que será o jogo da vida do Galo, que é vencer ou vencer, enfim, que lhes recordem a importância de vencer a próxima partida. Cobrança vinda de todos, sem exceção, inclusive deles próprios. Até reunião entre eles, soube, fizeram. A direção cogitou mandá-los a Coruripe — providência frustrada face ao inoportuno amistoso de hoje, em Campina Grande, a dois dias do jogo “fatal” —, fala-se em palavras de estímulo, mas não se ouve uma mísera palavra sobre a contratação de um psicólogo.

Dinheiro certamente há. O que não há é priorização. Basta que se atente para as boas (e custosas) contratações havidas. Sobra, porém, ignorância — desconhecimento, mesmo, sobre a importância do trabalho psicológico e da premente necessidade de que os atletas recebam acompanhamento por parte desse profissional —, ou preconceito, que nada mais é do que o resultado da ignorância. Enfim, autênticos cabeças-duras. Arre!
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# Escrita em 24/06/2009, antes da quarta derrota do Galo (CRB 1 x 2 Icasa/CE), ocorrida ontem, que a crônica alertava poderia ocorrer à míngua de acompanhamento psicológico.

# Também postada nos sítios FutebolAlagoano.com e FutNet.

(*) Conforme o sítio Arenasports, na internet, é psicóloga, com pós-graduação em Psicologia do Esporte pelo Instituto Superior de Cultura Física de Havana - Cuba, mestre em Desenvolvimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e doutora em Ciências do Esporte pela Unicamp, São Paulo. Trabalhou em grandes clubes do futebol brasileiro (São Paulo/SP, onde iniciou no futebol profissional, Internacional e Grêmio/RS, Santos e Palmeiras/SP), além da própria Seleção Brasileira de Futebol pentacampeã mundial. Mais recentemente trabalhou na Seleção Portuguesa de Futebol, em sua preparação para a Eurocopa 2004 e Copa do Mundo 2006. Conviveu com treinadores como Celso Roth, Paulo Autuori, Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari.

(**) Psicólogo formado pela Universidade Gama Filho – RJ, com pós-graduação em Psicologia Medica e Psicossomática, Especialista em Psicologia do Esporte e Psicologia Clinica. Atualmente ensina na pós-graduação da Universidade Veiga de Almeida e trabalha no Dept° de Futebol Profissional do Clube de Regatas Flamengo – RJ (
www.pauloribeiro.com.br).

(***) Jornal “Estado de São Paulo”, 21/04/1999.

Um comentário:

CORPORALMENTE disse...

Oi André, tudo bem com você?

Parabenizo pelo texto e obviamente pela sua maneira pensar!

Gostaria de saber como faço pra entrar em contato?

Sou bacharela em Psicologia e agora em fevereiro, ocorreu o 1º encontro entre a Psicologia e a Academia (Onde tratamos da importancia da Psicologia no esporte) e diante da proposta de fazer outros eventos...convido-o a participar de outro evento que irá se realizar!

Poderemos trocar "figurinhas"?!

Sinta-se abraçado e fico no aguardo da respectiva resposta!

Kleidiana Santos

msn: kleidiana_bs@hotmail.com