Recado aos alagoanos

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sábado, 30 de agosto de 2008

Egoísta e acomodado

Crônica
Sou. Cada vez mais. E isto se torna mais evidente em dois momentos, que se interligam. Primeiro, viajando pelo interior alagoano, quando me deparo com a miséria de vários de seus municípios. De dar dó! Alguns não têm “um pau pra dar num gato” (o pau que metaforicamente bateria no bichano seria um comércio decente, uma grande feira, alguma indústria, enfim, dinheiro circulando). Nada (ou quase). Mas sobra miséria: doenças (muitas erradicadas em outros locais), analfabetismo, esgoto a céu aberto, barbeiro (o bicho, não quem barbeia os outros), bocas desdentadas, piolho, falta d’água... Sim, sobra(!) falta d’água. Falta tanto que sua falta já é a regra. Assim, sobra.

Outra momento é em época de eleição para prefeito. Os candidatos são uns abnegados, uns desprendidos, uns exemplos incontestes de amor ao próximo necessitado. Verdadeiras Madres Teresas de Calcutá (com o perdão da santa, pela comparação e citação, aqui), não fosse uma diferença: pegam em armas, se preciso for. A maneira como guerreiam — entre eles, inclusive e principalmente —, sem receio de criar desafeições no opositor e, não raro, arriscando a própria vida; o volume de recursos financeiros que investem na campanha — sacrificando dos seus entes mais próximos e queridos (mesmo com a certeza de que jamais conseguirão recuperar as vultosas importâncias despendidas apenas pelo recebimento de sua remuneração mensal, contrapartida do exercício do cargo) —, se de um lado fazem-me marejar os olhos de lágrimas, emocionado pela ainda existência de homens tão probos, generosos e devotados à causa dos miseráveis, de outro como que apunhalam-me o peito, face à dor que sinto, decorrente da constatação de meus egoísmo e acomodação.

Mas a recompensa divina não tarda! (com o perdão do Senhor, pelo socorro ao além, de que mais uma vez me valho). Com efeito, após eleitos, rápida e folgadamente vê-se adquirirem belas e confortáveis casas (algumas, verdadeiras mansões), enormes propriedades rurais, belos carrões importados (e por aí afora), certamente por terem ganho em alguma das loterias da CAIXA, ou por uma herança inesperada, ou coisa (legal, claro!) que o valha.

Vejo tudo isto e sinto-me incomodado pela depreciativa avaliação de mim mesmo. Mas nem assim livro-me de meu egoísmo, de minha confortável acomodação. Prefiro seguir com o incômodo. Tão diferente desses pretendentes a homens públicos. Tão diferente desses, depois eleitos, prefeitos.
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Também publicado no jornal impresso Gazeta de Alagoas, de 10/9/2008 (na internet, em http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/texto_completo.php?cod=134236&ass=37&data=2008-09-10)

Um comentário:

Anônimo disse...

André, ótimo o seu artigo sobre o "altruísmo" e "comprometimento" da classe política do interior alagoano. Como já depenaram o erário será que quando morrerem viraram almas penadas ou depenadas? Com certeza nessa vida já estão desprovidos de vergonha totalmente. Parabéns! Roberto Bastos.

robertobastoscosta@yahoo.com.br