Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Reciprocidade e educação

Crônica
Há algum tempo atrás, o atual presidente do Brasil determinou que os turistas norte-americanos deveriam se submeter a regras semelhantes, aqui, em nossos aeroportos, àquelas que os turistas brasileiros estavam sendo submetidos nos aeroportos dos Estados Unidos. Não ordenou que fossem mal-tratados, embora muitos de nossos conterrâneos assim o estivessem sendo naquele país; não impediu, arbitrariamente, o ingresso de qualquer turista estrangeiro no Brasil; não pretendeu submetê-los a incômodo maior do que aquele sofrido pelos nossos irmãos brasileiros. A isto se chama direito de reciprocidade de tratamento, previsto no ordenamento jurídico internacional.

Li ou ouvi muitas vozes e penas (teclados) de respeito criticando a posição dos que se insurgiam contra a abertura de mais uma parte do Trapichão. Igualmente, li ou ouvi palavras (igualmente respeitáveis) contrárias aos que defendiam fosse dedicado, à torcida e à direção do Corinthians Paulista, um tratamento semelhante àquele percebido pelos torcedores e dirigentes alagoanos, mais especificamente do Clube de Regatas Brasil.

Em apertada síntese, assim entendiam, no primeiro caso, porque nós teríamos a obrigação, como anfitriões, de acomodar em nosso estádio os torcedores da agremiação rival do time alagoano; no segundo, porque não seria porque fomos mal-tratados que iríamos assim tratar os que vinham à nossa casa. Em suma, somos educados, recebemos bem os que nos visitam, somos pacíficos, e por aí foram os argumentos sinceramente esgrimidos por seus defensores.

Preciso, porém, discordar. Relativamente ao primeiro ponto, não enxergo essa necessidade de esticar-se o até então interditado (pela metade) Trapichão para receber os torcedores do time adversário. Principalmente quando se sabe que jamais tal atitude fora adotada antes para beneficiar os times do próprio estado. Por que o seria, agora? Para obter-se uma maior renda? Se foi por isto, cuida-se de exemplo lamentável de aplicação da máxima de que os fins justificam os meios. Nem sempre justificam. Aqui, certamente, não.

Ao revés, a idéia que paira sobre nossas cabeças é outra: de submissão, de desprestígio aos torcedores alagoanos ou, pior, de irresponsabilidade por submeter-se o visitante ao risco de um desmoronamento (afinal, não estava interditado porque oferecia risco aos torcedores alagoanos?). Ora, ora, ora... Existe lei a disciplinar essa situação! Ponha-se à venda o número mínimo de ingressos permitidos pela legislação e reserve-se um local adequado e devidamente protegido aos visitantes. E só.

Quanto à segunda objeção, relativa ao tratamento no que tange às demais circunstâncias (reserva de ingressos, acomodação 5 estrelas para a diretoria roxa, etc.), penso que não se trata de ser mal-educado, muito menos de defender-se o uso de violência. A questão aí, mais uma vez, é de reciprocidade. Misturada com um pouco de brio e de auto-estima, o que também não faz mal. Veja-se: se a torcida do CRB sequer pôde adquirir seus ingressos com antecedência (parece que, aqui, houve também a colaboração de nossos dirigentes, que não os teria solicitado), se nem abrir a bandeira do próprio estado de Alagoas lhe foi permitido (o que dizer uma mísera faixa), se até um coronel da polícia militar nativa foi injustificadamente destratado naquelas terras, por que vamos nós facilitar-lhes desmesuradamente a venda de bilhetes para o jogo, permitir-lhes encher nosso estádio de faixas e o que mais lhes conviesse?

A verdade é que infelizmente fomos (mal-)educados a confundir educação com subserviência, respeito com lenimento, hospitalidade com bajulação, reciprocidade com pagamento na mesma moeda. Violência? Absolutamente, não. Não podemos (nem devemos) ser selvagens. Mal tratamento? De forma alguma. Tratamento digno. Mas só.

E reciprocidade, naturalmente, não quer dizer reagir-se como o animal que nos agride, até porque não se tem patas, mas pés. Reciprocidade implica é reação à altura, não necessariamente idêntica. Entretanto, agredido o seja pelo bicho, nem por isto se deve enviar os agressores a um pet-shop ou ao nosso melhor haras, para alimentá-lo e embelezá-lo. Para bicho raivoso existe “carrocinha”, cocheira, jaula, entre outros lugares adequados, conforme for a espécie do dito cujo. Assim como faríamos se fosse na nossa casa. Merecemos (e temos de exigir) respeito em qualquer circunstância. Venha de onde vier o desrespeito. Até no esporte. Ao agirmos com reciprocidade estamos exigindo respeito. Isto é educação.
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Escrito em 25/08/2008
Também postado no site FutebolAlagoano.com

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