Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um estranho no ninho (2)

Crônica
Domingo, 26 de abril, jogo do Galo contra o Ipanema. Ia assistir em casa, mesmo. Mas conversa vai, conversa vem, meu filho me convence pra gente ir assistir em algum restaurante. Pela folia, sacomé? Não sabia ele que iria ser um baita dum programa de índio (eita! foi mal, pelo clichê preconceituoso). Antes, eu o alertara que não iria ser nada fácil a gente encontrar algum pra assistir ao jogo, já que na mesma tarde haveria decisões dos campeonatos carioca e paulista, as quais, como é de todos sabido, até parecem decisões de campeonatos alagoanos, dado o imenso público que acorre aos bares para vê-las.

Estava prestes a desistir, quando ele me lembrou de um, lá na Amélia Rosa. “É! Pode ser. Como não é um bar, propriamente dito, talvez passem o jogo do CRB”, respondi. Compromisso acertado com o proprietário, estacionei o carro, escolhemos a mesa, fizemos os pedidos preliminares e aguardamos. Começou o jogo. À parte aquela “maravilha” de futebol que presenciávamos, tudo estava correndo bem. O amigo do meu filho, que nos acompanhou, aproveitou o embalo para me perguntar por que eu só torcia para o CRB, ao que respondi desfiando-lhe algumas razões. Mais uma semente lançada contra essa idéia disseminada de que é normal torcer por um time do Rio ou de São Paulo, além do seu, do seu estado (inclusive com primazia para aquele, como se vê). Veio o intervalo. E aí...

Aos poucos foram chegando alagoriocas rubro-negros. “Até aqui, Brutus?”, pensei. Ao mesmo tempo, como num passe de mágica, o aparelho de TV — aquele mesmo em que assisti ao 1° tempo do Galo em relativa paz (até então, só o CRB me tirava a paz, e eu ainda não havia visto nada) —, já estava sintonizado na Bobo, digo, na Globo. Meu filho me cutucou, provocando-me, quase angustiado: “Pai, tiraram da Record!” “Calma, confortei-o. É só no intervalo. Quando recomeçar eles voltam.” Mas como eles — os alagoriocas — não paravam de chegar, e o proprietário começava a exibir um sorriso amarelo-aflito, pressenti que se eu não tomasse uma providência poderíamos sair dali com “o rabo entre as pernas” (foi mal, o bordão; mas há outro pra expressar melhor a situação que se avizinhava da gente?).

Assim, preventivamente, relembrei ao avexado empresário o compromisso assumido, solicitando que voltassem a sintonizar imediatamente a Pajuçara, já que o 2° tempo (arghh!) já teria reiniciado. Atendera-me! Bem, atendera-me instalando uma TV de pouco mais de 14 polegadas próxima a minha mesa, reservando a anterior, de plasma ou LCD, e de cerca de 32 polegadas, para os novéis (e muito mais numerosos, diga-se) clientes alagoriocas. O interessante é que nova e mixuruca TV foi direcionada também para uma mesa que estava à oeste da nossa, numa distância da bichoca-lixa-preta-doida. É que nessa mesa havia alguns alagoanos que, observando o movimento “carioca”, ameaçaram ir embora se fosse alterado o jogo da TV (ainda que não estivessem prestando essa atenção toda). Bem..., vão-se os anéis, ficam os dedos. Antes assim, dando uma de generoso, do que ficar sem TV alguma. Pior: sem assistir ao jogo, já que quando chegássemos em casa já teria passado quase todo o 2° tempo (até então a gente não sabia que não teria perdido nada).

Assim, aceitamos tacitamente a “justa” troca, engolindo mais essa humilhação decorrente de sermos torcedores de um time da terra, frente a torcedores, também da terra, mas prioritariamente de times de fora. É isso. Mas..., que mal há, afinal, para o futebol alagoano, essa predileção? Muito melhor mesmo que seus filhos se abastardem, tornando-se, com cada vez maior convicção, filhos de terras outras.

E eu continuarei aqui, estranho,... ainda que no meu próprio ninho.
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Futebolalagoano.com

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