Recado aos alagoanos

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ética e profissionalismo

Crônica
A primeira constatação, que, diga-se, não é nova: estou ficando (ou já estou) velho. É que sempre entendi que quando o discurso inicia com expressões do tipo “no meu tempo era assim...”, “sou do tempo em que...”, o autor, exatamente por não mais ser do tempo de então (é de outro tempo, como diz) está velho, ou ficando. Assim, como “no meu tempo” a palavra ética ainda tinha toda a pujança prática que lhe é, enquanto vocábulo, inerente; como “sou do tempo” em que exaltar-se e defender-se atitudes movidas por princípios éticos era algo que, antes de louvável, era comum, caiu-me a ficha. Aliás, “cair a ficha”, em pleno vigor dos “orelhões” acionados por cartão, dá bem a visão do que ressalto já em preâmbulo quanto ao meu estágio cronológico. E como não pretendo que minha modesta e apertadíssima síntese sobre o tema desborde para a crítica personalista — seja porque não sou divindade, tampouco juiz, menos ainda paladino da moral, antes sujeito inundado de imperfeições —, vou manter minhas divagações no campo da tese.

E, nesse campo — que por conveniência da crônica é um campo, inclusive, onde se pode jogar futebol —, minhas divagações teimam em vir sob a forma de indagações, de questionamentos, prenhe, portanto, de dúvidas. Mesmo que, na verdade, veja eu, mesmo já agora antes de findo o texto, que dúvidas em mim não há. Mas trago-as à luz, ainda assim, para que se as possa melhor enxergar, inclusive aqueles que talvez não a queiram ver.

É que sou (quase) do tempo (é, pelo “quase” vejo que nem estou tão velho assim) em que pessoas davam a própria vida pelo que entendiam ser o melhor para a coletividade, pelo bem comum. A própria vida! Sabe-se lá, hoje, o que é isso, mesmo? Sou do tempo em que o sujeito tinha orgulho de ser e de parecer honesto, de ser generoso (não-egoísta), de enfrentar as mais adversas situações, sob as mais difíceis circunstâncias, mesmo que para ao final apenas pudesse dizer — cheio de orgulho, amor próprio, auto-estima, altivez e coragem —, que lutou. Assim na vida, como no futebol. E os covardes — ah, os covardes! — tinham ao menos a imensa coragem de reconhecer tê-lo sido, conseguiam sentir o gosto saudável da lição do arrependimento. Isto importa, ainda hoje? O que se prefere, hoje: perder com honra, ou ganhar sem honra?

Aquele time lutou até o fim, dizia-se, então. Perdeu, como até parecia ocorreria — dada a desvantagem em que então se encontrava —, mas caiu de pé(!), com a dignidade (outra palavra que parece à beira da extinção) intacta, antes até fortalecida; ou, contra todas as expectativas, venceu, porque conseguiu transformar em força as adversidades, apenas pela união dos seus combatentes entregues à mesma batalha.

Esse também era um tempo, caros leitores, em que profissionalismo significava, “tão-só”, exercer com dignidade, competência, honestidade e fidelidade a profissão abraçada. E do mesmo modo que a remuneração, ao final do período trabalhado contratado, deveria representar a justa e equânime contrapartida pelo labor despendido, o profissionalismo seria, numa “palavra”, o exercício ético desse trabalho. Assim, a título de ilustração, algumas trocas de emprego por empresas concorrentes, apenas porque mais vantajosa financeiramente, sob certas circunstâncias seria para muitos considerada antes mercenarismo do que profissionalismo.

Entre nós, pois, e aí é minha a percepção, o norte moderno buscado hoje sob qualquer circunstância, com o uso de quaisquer armas (às favas a ética), é mesmo a vantagem a qualquer preço; e profissionalismo..., bem, este parece ter virado eufemismo para mercenarismo. E haja trabalho para passar a coisa antiga aos filhos...
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*Escrito em 06/04/2009
*Também publicado nos sites Futebolalagoano.com e FutNet

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