Recado aos alagoanos

REGATIANO, AZULINO, ALVINEGRO, ou torcedor de qualquer outro time das Alagoas, valorize o futebol da sua terra! VOCÊ TEM TIME PRA TORCER!

domingo, 12 de abril de 2009

Ser imparcial. O que é?

Crônica
Segundo o Houaiss, diz-se do imparcial aquele “que se abstém de tomar partido ao julgar ou ao constituir-se em julgamento”. Ou, pelas palavras do saudoso conterrâneo Aurélio, aquele “que não sacrifica a sua opinião à própria conveniência, nem às de outrem”. Todos temos nossa história particular, nossas crenças, ideologias, preconceitos (infelizmente), paixões. Mas apesar disto muitas vezes somos obrigados, ou por força da atividade que se exerce (o juiz de direito, por exemplo), ou por um compromisso conosco mesmos, a buscar a imparcialidade quando tornamos pública nossa opinião sobre algo. Naturalmente, não é fácil. É tão difícil que tenho a nítida convicção de que você nunca alcança perfeitamente esse objetivo, jamais se despe inteiramente de tudo o quanto, durante a sua vida, foi forjando o seu caráter, construindo sua personalidade, alicerçando seus princípios, moldando suas paixões.

Na crônica esportiva — aqui o destaque é o futebol —, nessas circunstâncias em que se persegue a imparcialidade, normalmente um dos dois caminhos são seguidos: ou você esconde sua identidade sobre o time dono de sua torcida, o que implicará em fulminar de morte, em sua vida, a oportunidade de torcer aberta e publicamente por ele, ou, ao contrário, você não omite, antes até declara por “quem” seu coração bate mais forte. Há muito mais exemplos de quem adota a primeira opção. E a razão é simples e, naturalmente, compreensível: é infinitamente mais fácil opinar favoravelmente sobre o seu (misterioso) time do coração, ou desfavoravelmente sobre o principal rival deste, sem parecer que se está sendo parcial, vale dizer, que se esteja permitindo que a paixão norteie o rumo adotado por sua opinião.

Opto, entretanto, pelo segundo caminho, e aqui não remanesce a mais mínima crítica aos que pensam e optam diferentemente, e também não há qualquer ineditismo nisso. Exemplos de peso existem na crônica esportiva nacional (Juca Kfouri, Fernando Calazans, etc.) e tupiniquim (o falecido radialista João Malta, que era, inclusive, Conselheiro do CRB), e, naturalmente, não estou a comparar minhas modestas crônicas a de qualquer um deles. Faço essa opção, primeiro, porque não abro mão de torcer, muito e abertamente, por meu único clube do coração (sequer tenho um segundo, para amenizar a falta que aquele poderia me causar); segundo, porque ao assim agir entendo estar sendo absolutamente honesto com o leitor, pois que lhe oportunizo o direito de melhor avaliar a minha opinião e sua eventual carga de (im)parcialidade, já que antecipadamente conhece minhas pessoais preferências enquanto torcedor. E a maior dificuldade nesse caminho reside, justamente, quando se há de manifestar uma opinião favorável ao seu time do coração, ou uma desfavorável ao principal rival. Particularmente é essa a circunstância que merece de mim os maiores cuidados, até para manter o respeito, primeiro, comigo mesmo, e depois com quem me honra com sua leitura.

A título de exemplo, se avalio que o CSA, na primeira parte do chamado “Clássico do spray de pimenta”, foi covarde e fujão — como recentemente o fiz na crônica “Bom também para o CRB” —, não poderia (como ensina o velho Aurélio) sacrificar a minha opinião à conveniência de quem com ela discorde, com receio de ferir-lhe as suscetibilidades. Passei uma semana para dizê-lo, exatamente porque tive o cuidado de avaliar o jogo e todas as suas circunstâncias com o máximo de responsabilidade, de modo a não me deixar impregnar pelas minhas preferências pessoais. Tampouco há desrespeito ao atribuir-lhe aqueles comportamentos. Não há adjetivos outros para quem se acovarda e foge, que não os de covarde e fujão. Paciência. Como defensor do futebol desta terra senti-me revoltado e envergonhado. Fosse o CRB, por razões óbvias, a revolta e a vergonha seriam quadruplicadas. No mínimo.

Como se vê, não é fácil ser (e parecer) imparcial quando a crítica contundente é endereçada ao time rival do seu clube do coração. Nem o é quando a exaltação do elogio vai para este. Paciência, de novo. São os ônus de quem opta por levar a “transparência” às últimas consequências. Ainda acho melhor assim.
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Também postada nos sites Futebolalagoano.com e FutNet

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